Após a revisão nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) indicar que houve fechamento, e não criação, de 191,5 mil posto de trabalho com carteira assinada em 2020, outra base mais ampla do governo federal, a Relação Anual de Informações Sociais (Rais), aponta que o Brasil perdeu 480,3 mil vínculos empregatícios formais no primeiro ano da pandemia.
A Rais exige dados sobre todas as movimentações de emprego do ano e de todos os tipos de contrato, enquanto o Caged recolhe admissões e demissões apenas sob regime da CLT. Segundo a Rais, foram encerrados, no ano passado, 254,2 mil postos celetistas, 215,1 mil estatuários (servidores da administração pública direta ou indireta, não efetivos etc.) e 11 mil “outros”. Nessa última categoria, enquanto houve redução de quase 104 mil vagas para aprendiz, os temporários cresceram em 92,2 mil postos.
Os dados da Rais mostram que, na última década, o ano de 2020 só não foi pior que 2015 e 2016, período de forte ajuste no mercado de trabalho formal brasileiro, com reduções de 1,5 milhão e 2 milhões de trabalhadores no estoque de empregos formais, respectivamente, observa Bruno Imaizumi, da LCA Consultores.
Da perda dos 480,3 mil trabalhadores formais totais em 2020, as mulheres representaram 96,4%, destaca o economista. Com isso, a proporção de mulheres no estoque de empregos formais em 2020 (43,6%) foi a menor desde 2014 (43,2%), após ganho contínuo de espaço na última década.
“É um dado impressionante, mas temos que lembrar do que aconteceu em 2020: esse número forte de 96% das vagas encerradas serem de mulheres está muito relacionado ao fechamento das escolas. Ainda vivemos em uma sociedade em que boa parte das tarefas da casa e do cuidado das crianças acaba recaindo sobre as mulheres”, diz Imaizumi.
Ele destaca também, entre os dados da Rais, o aumento da quantidade de estabelecimentos sem nenhum empregado no ano passado, a chamada “Rais Negativa”. Em 2019, eram 4,1 milhões de estabelecimentos nessa situação, passando para 4,4 milhões no ano passado.
“Muitas empresas acabaram quebrando no ano de 2020 e muitas das que se mantiveram juridicamente abertas acabaram não funcionando, muito por causa das restrições de circulação de pessoas adotadas para conter a doença”, diz Imaizumi.
Outra hipótese, segundo ele, é que a crise provocada pela pandemia acabou fazendo com que muitos trabalhadores abrissem CNPJs para trabalhar no mercado de trabalho sem carteira assinada, intensificando o movimento de “pejotização” do mercado de trabalho brasileiro como um todo.
O número total de estabelecimento declarantes da Rais subiu de 7,97 milhões em 2019 para quase 8,2 milhões em 2020, mas, considerando apenas os negócios ativos (com pelo menos um empregado), houve, na verdade, fechamento de 53,3 mil estabelecimentos no ano passado, observa a LCA.
Apenas o setor da construção registrou criação (3.795 novos estabelecimentos). Comércio e serviços foram os que tiveram a maior quantidade de negócios encerrados (26,6 mil e 20,3 mil estabelecimentos, respectivamente).
Fonte: Valor Econômico
Texto: Anaïs Fernandes e Álvaro Fagundes
Data original da publicação: 07/12/2019
[…] O fechamento de serviços durante a pandemia acarretou na diminuição de postos de trabalhos ocupados por mulheres, como serviços ligados ao turismo, trabalhos domésticos remunerados, restaurantes, escolas infantis e serviços ligados aos cuidados:Por que as mulheres saíram do mercado de trabalho do Brasil em 2020?Crises e gênero: como a crise de 2015 e a pandemia de 2020 afetaram nas desigualdades entre homens e mulheresCom 96% das vagas perdidas por mulheres, país destrói 480 mil postos formais em 2020 […]