Helena Hirata
Fonte: Revista da ABET, v. 15, n. 1, p. 9-21, jan./jun. 2016.
Resumo: O objetivo do ensaio é colocar em discussão cinco mudanças em nível internacional que afetaram o mundo do trabalho e as relações de gênero: i) os movimentos migratórios e a nova divisão internacional do trabalho; ii) a terciarização da estrutura econômica e o desenvolvimento do setor de serviços; iii) a terceirização da atividade produtiva; iv) as mudanças na organização do trabalho, nas quais o “modelo japonês” e as “estratégias defensivas” de novo se disseminam em diversos países; e v) a precarização do trabalho acompanhada de maior precariedade social.
Sumário: Introdução | I Globalização e migrações internacionais | II Dinâmicas internacionais do trabalho e os movimentos migratórios | III A terciarização do trabalho | IV A terceirização do trabalho | V O “modelo” japonês de trabalho dos anos 2000 e sua disseminação internacional | 5.1 Precarização do emprego | 5.2 Intensificação do trabalho e saúde | 5.3 Horas extras não remuneradas (“sabissu zangyo”) | 5.4 Subcontratação e condições do trabalho externalizado | 5.5 Just-in-time | VI Divisão sexual do trabalho, precarização social e precarização do trabalho | VII A precarização conjugada ao feminino | VIII Conclusão | Referências
Introdução
As dinâmicas internacionais, comandadas pelo processo de globalização econômica, financeira, política, militar e cultural, tiveram um impacto considerável não apenas sobre o trabalho, mas também sobre os estudos sobre o trabalho.
Assim, o debate sobre os modelos produtivos alternativos ao taylorismo e ao fordismo ou o debate sobre a reestruturação produtiva foram progressivamente substituídos pela análise das consequências da produção globalizada sobre a empresa e seus atores. Hoje se analisa a dinâmica entre global e local, ou a nova divisão internacional do trabalho induzido pelas migrações internacionais maciças a partir dos anos 2000, mas a discussão sobre os novos modelos produtivos perdeu sua centralidade na sociologia e na economia do trabalho.
Observamos uma verdadeira mudança de paradigma nos debates da sociologia e da economia do trabalho, do emprego e da empresa dos anos oitenta para hoje. Apesar dessas mudanças, o que permanece imutável é que a literatura sobre a globalização é cega ao gênero, “gender blinded”, como as pesquisas sobre os novos modelos de organização do trabalho, em geral realizadas por homens. Entretanto, as consequências das políticas neoliberais, as privatizações, o desenvolvimento da terceirização e a externalização da produção, a diminuição dos serviços públicos em contexto de crise, tem consequências desiguais sobre as condições de trabalho e emprego segundo o sexo do trabalhador.
As dinâmicas de classe, de raça e os movimentos migratórios não podem ser compreendidos sem a perspectiva de gênero. O gênero é um elemento chave organizador da globalização neoliberal: tese que desenvolvemos no nosso livro “O sexo da globalização: gênero, classe, raça e nova divisão do trabalho” (FALQUET et al., 2010) e também no livro “Trabalho flexível, empregos precários?” (ARAUJO GUIMARÃES; HIRATA e SUGITA, 2009).
Uma comunicação recente de Robert Boyer (2015) mostra as dinâmicas internacionais através de quatro blocos: América Latina, Ásia, Estados Unidos e Europa. As grandes linhas indicam: pequena, mas significativa, redução das desigualdades na América Latina (apesar da persistência de enormes desigualdades nesse continente), aumento das desigualdades nos Estados Unidos e na Ásia e os riscos induzidos pela crise nos sistemas de bem-estar na Europa.
Das muitas mudanças que afetaram o(s) mundo(s) do trabalho ao nível internacional, trataremos aqui de cinco:
• Os movimentos migratórios e a nova divisão internacional do trabalho;
• A terciarização das economias e o desenvolvimento do setor de serviços;
• A terceirização da atividade produtiva;
• As mudanças na organização do trabalho e do emprego, em que o “modelo japonês” que podemos chamar “defensivo” parece de novo se disseminar ao nível internacional;
• A precarização social e a precarização do trabalho.
Clique aqui para continuar a leitura deste artigo no site da Revista da ABET
Helena Hirata é diretora de pesquisa emérita no Centre National de la Recherche Scientifique da França e professora visitante internacional no Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo, Brasil.