Régine Bercot
Fonte: Revista Ciências do Trabalho, São Paulo, n. 4, p. 111-124, jun. 2015.
Resumo: Este artigo é produto de uma reflexão epistemológica. Sendo poucos os trabalhos que permitem esclarecer o impacto de pertencimento a um gênero nos riscos de deterioração da saúde no ambiente do trabalho, pretendemos descrever aqui reflexões relacionadas com mudanças no âmbito de um seminário de pesquisa. Podemos vincular o mal-estar experimentado e as desigualdades das quais são vítimas as mulheres sem que os atores o percebam e pertençam a um gênero. Isso devido a uma notória invisibilidade das características desse mal-estar e de suas causas, pois surgem como algo natural ou estão vinculadas a escolhas ou incapacidades das mulheres, sendo que a origem está nas formas de organização do trabalho e relações construídas com base na socialização entre homens e mulheres diferentes. A questão da abordagem metodológica é, ao mesmo tempo, crucial e difícil, pois a variável explicativa do gênero está associada a diversas outras.
Sumário: O que entendemos por mal-estar no trabalho | Como tornar aparentes os problemas de saúde em relação ao pertencimento de gênero? | A diversidade dos mundos e dos espaços | Referências bibliográficas
Numerosos estudos provam que as mulheres têm um lugar diferente ao dos homens em ambientes de preponderância masculina. Por outro lado, há menos estudos que analisam o lugar dos homens em profissões femininas (BESSIN, 2008, BUSCATTO; FUSULIER, 2013). As consequências são diferentes, pois “as minorias femininas se esforçam para serem reconhecidas no centro de antigos ‘bastiões masculinos’, enquanto que os homens em posição minoritária têm meios mais frequentes e rápidos para progredir do que suas colegas” (LE FEUVRE; LAUFER, 2008).
Os estudos baseados no gênero e a saúde em relação ao trabalho são ainda pouco desenvolvidos. A ideia de que as desigualdades – até mesmo as discriminações – vividas pelas mulheres poderiam ter efeitos na saúde, não tem sido verdadeiramente considerada pelos pesquisadores. Sem dúvida, isso é resultado da dificuldade em debater os diferentes fatores que interferem na saúde dos atores.
O seminário que organizamos em 2012-2013 fortaleceu a nossa hipótese formulada no início: que a origem do mal-estar em relação aos espaços e interações no seio do mundo do trabalho difere conforme o sexo das pessoas, se são homens ou mulheres.
Essa colocação, além do fato de ser diferente, pode ter efeitos sobre a saúde? Caso assim fosse, quais são os mecanismos que estão em jogo para atingir o objetivo de saúde ou, ao contrário, quais são os que permitem evitar a deterioração da saúde?
Uma das nossas grandes pesquisas é a Sumer, que permite apreciar diferenças entre homens e mulheres baseadas na função que ocupam na organização do trabalho.
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Régine Bercot é professora de Sociologia na Université Paris 8 – Centro de Pesquisa Sociológica e Política de Paris – GTM (Groupe Technique Multipartite – Grupo Técnico Multipartidário) e MOS (Management des Organisations de Santé – Gestão de Organizações da Saúde) – EHESP (École des Hautes Études en Santé Publique – Escola de Altos Estudos em Saúde Pública).