A divisão sexual do trabalho e seus efeitos sobre as mulheres

Marilane de Oliveira Teixeira

Fonte: Espaço Vital
Data original da publicação: 25/09/2018

Apesar da passagem dos séculos, alguns aspectos do trabalho das mulheres permanecem idênticos, como as diferenças salariais, a significativa concentração em setores e ocupações com estereótipos de gênero, a inserção em formas de trabalho mais precárias e flexíveis e o grande volume de horas dedicadas ao trabalho de cuidados e afazeres domésticos, em adição à jornada de trabalho fora de casa.

Ainda que as mudanças nas estruturas ocupacionais – resultado das transformações tecnológicas e das formas de organização dos processos de trabalho – tenham gerado novas ocupações, persistem alguns atributos a elas associados e que as acompanham na sua inserção no mundo produtivo.

A divisão sexual do trabalho gera uma desigual repartição entre os sexos em todas as esferas da vida, fortalecendo a assimetria entre os sexos. Tal se expressa nos mais distintos âmbitos da sociedade e, no mercado de trabalho, na desproporcional repartição entre pessoas fora e dentro da força de trabalho.

São empregadas e desempregadas, formais e não formais e, no interior do próprio mercado de trabalho, segmentando em ocupações a que são conferidas características próprias, na maioria das vezes, associadas unicamente ao sexo dos indivíduos ou em formas de contratação especificas, a exemplo do trabalho em tempo parcial, terceirizado, autônomo, entre outras.

Muitas das análises com viés conservador negligenciam as motivações que levam as mulheres a se incorporarem nos empregos mais precários e o quanto as suas “escolhas” estão determinadas por suas condições materiais e pelos novos arranjos familiares, distantes de modelos formais e tradicionais de família profundamente inadequados.

Nossa abordagem enfatiza que as desigualdades expressam processos sociais complexos. Portanto, alterar as condições em que se dá a socialização do trabalho doméstico não remunerado, por meio do compartilhamento das tarefas de reprodução social, e alterar a estrutura produtiva de forma que a produção de bens públicos seja prioridade para libertar as pessoas de determinadas obrigações, principalmente com a tarefa de cuidados, são indicações que podem contribuir para uma nova perspectiva para as mulheres.

Marilane de Oliveira Teixeira é economista, doutora em desenvolvimento econômico e social, mestre em economia política, professora e pesquisadora na área de relações de trabalho e gênero no CESIT/IE – UNICAMP e assessora sindical.

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