Flávia Manuella Uchôa de Oliveira, Clarice Rodrigues Pinheiro, Rafael Macharete, Gabriel Sant’Anna, Mary Zhang e Lucas de Oliveira
Resumo: O artigo apresenta resultados da pesquisa “Impactos da escala 6×1 na vida dos(as) trabalhadores(as)”, que analisa os efeitos dessa jornada na saúde e na vida pessoal, familiar e social. Os dados foram coletados via questionário virtual, com análise quantitativa descritiva e qualitativa temática. Os resultados parciais indicam que a maioria das 496 pessoas com respostas válidas ao questionário são mulheres pretas e pardas, com Ensino Médio, renda de dois mil reais e ocupadas no comércio. A realidade de trabalho nessa escala mostra-se determinante para a degradação da saúde, tanto física quanto mental, dessas mulheres, bem como de suas vidas pessoais, em decorrência do isolamento familiar e social.
Sumário: Introdução | Metodologia | Apresentação e discussão dos resultados | Quem são e onde estão as(os) trabalhadoras(es) em escala 6×1 nesta pesquisa? | Os impactos da escala 6×1 na saúde e na vida pessoal, familiar e social | Considerações finais
Introdução
O controle do tempo é elemento fundamental na contradição capital-trabalho. Na disputa política pelo tempo, a redução da jornada de trabalho tornou-se uma pauta histórica dos movimentos de trabalhadoras e trabalhadores (Dal Rosso, 2021). No Brasil, um fenômeno recente surge como imprescindível para a discussão dessa pauta. Em setembro de 2023, o movimento “Vida Além do Trabalho – Pelo fim da escala 6×1” (VAT) trouxe ao debate público a reivindicação pelo fim da escala 6×1, na qual trabalha-se seis dias e tem-se somente um dia de folga.
Ao longo de 2024, esse movimento tomou forma através de ações semanais de panfletagem; passeatas e do abaixo-assinado para o fim da escala, que contava com quase três milhões de assinaturas em maio de 2025. A pauta do movimento tornou-se também a espinha dorsal do texto de uma proposta de Emenda à Constituição (PEC)7 – ainda em debate – que estabelece a duração do trabalho em até oito horas diárias e 36 horas semanais, com jornada de quatro dias por semana e três de descanso, sem redução salarial.
Em 2024, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do estado de São Paulo afirmou não poder comentar sobre o movimento e sua pauta “por falta de estudos sobre o tema” (Declercq, 2024). No último 1º de Maio, o pronunciamento do atual Presidente da República indicou a necessidade de aprofundar o debate sobre a redução da jornada de trabalho, com a menção de Lula diretamente à escala 6×1. Nota-se nesses pronunciamentos o argumento de que existem poucos estudos sobre essa jornada e seus impactos para a vida das trabalhadoras e trabalhadores, bem como para a economia do país.
Diante disso, a motivação deste artigo é fornecer dados, argumentos e referências que auxiliem e fortaleçam as mobilizações para a redução da jornada de trabalho e para o fim da escala 6×1. Para tanto, as seguintes perguntas foram formuladas: quem está submetida(o) à escala 6×1 no mercado de trabalho brasileiro? Que lugares essas pessoas ocupam nesse mercado? Em quais setores econômicos elas estão? Qual a realidade do trabalho nessa escala? Quais são os seus impactos na saúde e na vida de trabalhadoras e trabalhadores?
Clique aqui para continuar a leitura deste artigo
Flávia Manuella Uchôa de Oliveira, Clarice Rodrigues Pinheiro, Rafael Macharete e Gabriel Sant’Anna – Universidade Federal Fluminense (UFF)
Mary Zhang – University of Birmingham
Lucas de Oliveira – Fiocruz e Movimento Vida Além do Trabalho – Pelo Fim da Escala 6×1

