Remando contra muitas correntes, buscando ancoragem na crítica da economia política, Iuri Tonelo oferece uma melhor compreensão do capital e de suas crises contemporâneas.
Ricardo Antunes
Fonte: Blog da Boitempo
Data original da publicação: 04/06/2021
Quando eclodiu a crise de 2008, as principais forças de esquerda gastavam a maior parte de suas energias para restaurar o Welfare State nos países do Norte ou praticar a concertação do capitalismo nos países do Sul. Em ambos os casos, imaginavam que assim poderiam civilizar o incivilizável. Inexistia, então, um projeto societal com força e impulsão social de classe que oferecesse um desenho para além do capital, tomando como ponto de partida a tese da impossibilidade do socialismo em um só país.
Nesse contexto, George W. Bush, Nicolas Sarkozy, Gordon Brown e espécimes similares esforçavam-se para recuperar o estatismo todo privatizado, aquele lado forte do Estado político que existe para salvar o capitalismo nos momentos de debacle. Um curioso receituário “neokeynesiano”, que havia sido enterrado desde a vitória de Margaret Thatcher, parecia renascer para que o verdadeiro caminho da servidão pudesse efetivar a devastação neoliberal.
Tudo isso foi buscado porque os presidentes dos bancos centrais das maiores economias capitalistas do globo, assustados como nunca, vociferavam de modo quase uníssono: tratava-se da mais profunda crise estrutural do capitalismo desde 1929. E indagavam, sem ter ideia de como principiar: o que fazer?
Mas é bom recordar que eles encontravam alguma tranquilidade em saber que nada de ousado e contemporaneamente anticapitalista se apresentava no horizonte. Então, puderam empurrar a crise, prolongá-la no tempo e no espaço, administrá-la sob a impulsão da contrarrevolução preventiva que se gestava e assim despejar nas costas do proletariado global o ônus da crise do capital.
Aqui reside a maior contribuição de No entanto, ela se move: a crise de 2008 e a nova dinâmica do capitalismo. Remando contra muitas correntes, buscando ancoragem na crítica da economia política, Iuri Tonelo oferece uma melhor compreensão do capital e de suas crises contemporâneas, bem como aponta para a nova configuração do proletariado e das suas lutas, que se expandem em escala global. Em plena crise do capitalismo virótico, urge que a mesma história não se repita. No entanto, ela se move se soma, então, a esse crucial esforço para que não tenhamos, uma vez mais, nem a farsa nem a tragédia.
Em No entanto, ela se move: a crise de 2008 e a nova dinâmica do capitalismo, o sociólogo Iuri Tonelo acompanha os desdobramentos e as rupturas do capital, a partir da crise econômica de 2008, que levaram a uma nova fase do capitalismo pós-2016. A obra não se limita, porém, ao terreno da análise econômica e busca desvendar as relações entre política, economia e luta de classes estabelecidas na última década, desde a crise que acertou o coração do sistema financeiro.
Em uma análise que entrelaça aspectos econômicos e políticos, disputas geopolíticas e distintas formas de conflito entre o capital e o trabalho, bem como a dimensão cultural nas mais variadas formas de sentir e pensar, o autor desvela ao leitor o significado dessa crise, cujas implicações percorreram diversas esferas da sociedade.
Iuri Tonelo traça as transformações no capitalismo internacional a partir de 2008 que levaram a metamorfoses no próprio capital, provocando acontecimentos que chacoalharam a dinâmica capitalista no período, como a reestruturação do mundo do trabalho e os recorrentes conflitos sociais, da Primavera Árabe ao Black Lives Matter.
Ricardo Antunes é professor titular de sociologia do trabalho na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador da coleção Mundo do Trabalho, da Boitempo. Organizou os livros Riqueza e miséria do trabalho no Brasil (2007) e Infoproletários: a degradação real do trabalho virtual (2009), ambos publicados pela Boitempo.