Transformações no mercado de trabalho norte-americano: 1980 a 2013

Augusto Pinho de Bem

Fonte: Indicadores Econômicos FEE, Porto Alegre, v. 41, n. 4, p. 35-50, 2014.

Resumo: O presente artigo analisa as transformações no mercado de trabalho norte-americano cristalizadas no período de 1980 a 2013, anos que correspondem à ascensão do neoliberalismo no cenário econômico internacional. Nesses anos, as condições da classe trabalhadora sofreram progressiva deterioração, por conta da quebra do link entre crescimento de produtividade e aumentos salariais, da intensificação da concorrência internacional com países de baixos salários, que levaram a uma nova colocação dos EUA na divisão internacional do trabalho, e da redução da atuação estatal pregada pela ideologia neoliberal. O endividamento e a inflação no valor de ativos abastecidos por bolhas periódicas substituíram o crescimento salarial vinculado ao da produtividade para a manutenção e ampliação de seus níveis de consumo, sendo essa relação central para a crise financeira de 2007. Após uma inconsistente recuperação do tipo “recuperação sem empregos” (jobless recovery), o Estado começa a retirar os estímulos dados aos trabalhadores nos planos de salvamento do período pós-crise, sem que tenham se reestabelecido as condições de emprego e renda do período pré-crise da imensa maioria da classe, o que só aumenta a perspectiva de continuidade do período de dificuldades que enfrentam.

Sumário: Introdução | Neoliberalismo e a degradação nas condições do mercado de trabalho | Características gerais de gênero e idade da população norte-americana | Questão étnica e migração | Declínio na produção manufatureira | O pós-crise de 2007 e a severa “recuperação sem empregos” | Considerações finais | Referências

Introdução

Após o fim da idade dourada do capitalismo, a economia mundial passou por uma grande transformação com o advento do neoliberalismo no plano econômico e político, na década de 80 do século passado. Em seus preceitos, o livre comércio e a diminuição da atuação estatal, bem como a flexibilização do mercado de trabalho.

Foi um período de deterioração nas condições da classe trabalhadora. Com o foco principal da política econômica migrando da busca pelo pleno emprego para o controle da inflação e para a defesa da globalização comercial e financeira, os países desenvolvidos expuseram-se progressivamente a uma intensa concorrência internacional, inclusive com seus pares, de baixos custos salariais, o que ampliou o corte de custos vinculados ao trabalho como estratégia competitiva. A redução da atuação do Estado e o desmantelamento do aparato de proteção social dos países avançados foram outras tendências que vieram a penalizar a classe trabalhadora.

E, nos EUA, tal panorama não foi diferente, com a maior parte dos trabalhadores com rendas salariais estagnadas e diminuição de sua proteção social. A expansão do crédito e a especulação com ativos financeiros tornou-se o combustível para a manutenção e expansão do consumo, processo que levou a bolhas periódicas de ativos, nas quais as recuperações estabeleciam padrões inferiores nas condições do mercado de trabalho para a classe trabalhadora.

Nesse contexto, o objeto do presente artigo é fazer uma análise das condições atuais do mercado de trabalho norte-americano à luz das transformações ocorridas no período do neoliberalismo e que se agravaram após a crise financeira de 2008. O argumento central é que o novo modelo econômico é causador da deterioração nas condições da classe trabalhadora – e não outros fatores, como a imigração – e que estão no centro da crise financeira de 2007-08 e da estagnação posterior que vive a economia norte-americana. E, como novamente não se veem mudanças na condução do modelo, a principal fonte para manutenção e expansão do consumo segue sendo a propagação de ciclos de intensificação no endividamento e especulação, com o risco de novas crises.

O artigo é estruturado da seguinte forma: a primeira seção apresenta aspectos gerais sobre a degradação das condições da classe trabalhadora trazida pelos preceitos neoliberais. As duas seções seguintes apresentam a evolução dos aspectos populacionais da oferta de trabalho norte-americano, destacando o papel da migração, fator que, muitas vezes, é apontado por economistas identificados com o modelo neoliberal como o culpado para a redução dos níveis salariais. A seção seguinte concentra-se em apontar como a concorrência internacional e a nova estrutura produtiva norte-americana, dada pela divisão do trabalho neoliberal – fatores relacionados à demanda por trabalho –, tornaram-se fundamentais na redução dos custos salariais e no nível de vida da maior parte da classe trabalhadora. A quarta seção aborda a condição atual da severa “recuperação sem empregos” e as dificuldades que se avizinham com o indicativo de diminuição da atuação estatal, concluindo com considerações finais.

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Augusto Pinho de Bem é mestre em Desenvolvimento Econômico pela UFRGS e Pesquisador do Núcleo de Política Econômica da FEE.

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