Trabalhar menos para que a Terra descanse

Cesar Sanson

Resumo: Historicamente a argumentação em defesa da redução da jornada de trabalho esteve associada a dois fatores: trabalhar menos para que mais pessoas trabalhem e trabalhar menos para viver melhor. Há, porém, na chegada desse século uma “novidade” que não se colocava anteriormente, o fato de que nos confrontamos com uma crise que pode dar cabo da humanidade: a crise ecológica. Faz-se necessário, portanto, acrescentar um terceiro argumento para dialogar com os anteriores: trabalhar menos para que a Terra descanse. Este artigo sustenta a ideia de que a redução da jornada de trabalho pode contribuir na mitigação das mudanças climáticas.

Sumário: Redução da jornada de trabalho e mudanças climáticas | Método para repensar a organização do trabalho humano | Descanso da Terra | Que tipo de trabalho queremos? | Considerações finais

Redução da jornada de trabalho e mudanças climáticas

Há registros de que desde o Século XVI trabalhadores travam a luta pela redução da jornada de trabalho. À época, os companheiros contratados pelos artesãos se lançam em movimentos grevistas para trabalharem menos. Com a chegada da Revolução Industrial – Século XVIII –, trabalhadores e trabalhadoras se insurgem contra as jornadas laborais exaustivas transformando a redução pelo tempo de trabalho em uma das principais bandeiras da classe trabalhadora.

Relatos colhidos por Marx (2017) contêm descrições que mostram a mesquinhez do furto de minutos que eram destinados ao descanso de trabalhadores e descrições aterradoras a que eram submetidas crianças a partir dos nove anos, às vezes menos, em jornadas de trabalho que se iniciavam às 6hs da manhã e se prolongavam até as 20hs, 21hs da noite, com pequenas pausas para o café e o almoço. Ainda mais, havia jornadas que se estendiam noite adentro, mesmo para as crianças, e estratégias de revezamento no trabalho que flagelavam os trabalhadores. As jornadas de trabalho esgotantes associada às condições insalubres no local de trabalho produziam o que Marx denominava de “batalha industrial”, uma referência ao elevado número de acidentes de trabalho.

Na origem da luta pela redução da jornada de trabalho encontram-se razões humanitárias e de saúde; a de não permitir o trabalho de crianças e de mulheres gestantes, reduzir a fadiga e, por conseguinte, os acidentes de trabalho. Posteriormente – Século XX –, com o avanço da conquista de uma jornada de 8hs diárias, a luta pela redução da jornada de trabalho ganha outras motivações, particularmente duas: trabalhar menos para que mais pessoas trabalhem e a ampliação do tempo livre para melhorar a qualidade de vida e a convivência social (Aznar, 1995; Gorz, 2004). Essas têm sido ultimamente as principais razões e os principais argumentos a favor da redução da jornada de trabalho. Há, porém, na chegada desse século uma “novidade” que não se colocava anteriormente e que pode ser acrescentada as anteriores para alargar o conteúdo e significado da luta pela redução da jornada de trabalho. Trata-se do fato de que nos confrontamos com uma crise que pode dar cabo da humanidade: a crise ecológica. A efetiva redução da jornada de trabalho pode contribuir para a descalonamento do agravamento das mudanças climáticas.

 

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Cesar Sanson é professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS) do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)


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