Em audiência pública em 01/10, na Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público da Câmara, o presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), Jair Pedro Ferreira, voltou a criticar o projeto do governo Bolsonaro de quebrar o monopólio da Caixa na gestão do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). “Nós defendemos que fique na Caixa”, afirmou o dirigente. “Até 1990, o FGTS era espalhado nos bancos e hoje defendemos que fique na Caixa, porque todos os trabalhadores sabem que se sair nós estamos perdendo. Até 1990 não funcionou bem, e tem gente sem receber as contas inativas até hoje.”
Ferreira também mostrou preocupação com o destino dos 8 mil funcionários do banco que estão envolvidos com o FGTS. Ele destacou ainda que a Caixa tem 60 mil pontos de atendimento no país, o que representa sua alta capilaridade, e que é um desperdício perder o FGTS. “A construção civil vai perder muito”, acrescentou o presidente da Fenae, em relação aos impactos da medida.
A audiência foi realizada com requerimento da deputada Erika Kokay (PT-DF), que convidou o presidente do banco, Pedro Guimarães, para falar dos planos para a instituição financeira durante o governo Bolsonaro. Guimarães destacou algumas das medidas que pretende levar adiante durante sua gestão e mostrou que se esforço à frente da instituição é voltado para a lucratividade e redução de custos. Ele também defende que cumpre uma gestão técnica e que não há ingerência política de partidos na instituição. “Eu nunca tive filiação política, não tenho Facebook, nem Twitter, eu sou um técnico”, disse Guimarães para defender sua atuação.
Guimarães também admitiu que pode fechar agências do banco. Segundo ele, isso pode acontecer depois dos pagamentos do FGTS, que vão até 2020. Ele classificou essa medida como uma questão matemática.
Políticas públicas
Mas Ferreira disse que os trabalhadores são contrários a medidas pretendidas pelo governo, e citou a venda para o mercado de carteiras rentáveis do banco, o que pode afetar a eficiência em relação às políticas públicas. “Tem sido falado na imprensa que se trata da venda de segmentos da Caixa, por isso se criou a Caixa Seguridade, agora Caixa Loterias, e isso será vendido, e a sociedade perde fonte de receitas para os programas sociais”, disse. “Sai uma empresa de dentro da Caixa, desloca trabalhadores e isso é preocupante”. Ele lembrou ainda que a instituição perdeu 18 mil postos de trabalho nos últimos anos.
“Adoecem os trabalhadores e dificulta o atendimento à população brasileira. Estão criando uma empresa de cartões, ou seja, tudo isso para os empregados são ameaças. Isso é o encolhimentos da empresa. O banco é um instrumento importante do estado brasileiro”, disse Ferreira, em defesa do papel público da instituição.
A deputada Erika Kokay também ecoou as preocupações de Ferreira com as empresas que a Caixa está criando e citou o caso das loterias. “O que tem sido dito é que a loteria terá capital aberto, mas mais de 30% dos recursos são revertidos em políticas sociais”, disse. Segundo Erika, a Caixa corre risco de perder seu papel social em função dessa criação de empresas, que ela chamou de “esquartejamento” do banco público.
Representante do Dieese na audiência, Sergio Lisboa também defendeu o papel público da instituição. Lisboa destacou que o banco, em primeiro lugar, é indutor do desenvolvimento econômico, e tem participação na economia em lugares em que os bancos privados não chegam. “A participação da Caixa é histórica. Tem municípios que são 100% de bancos públicos”. No país, cerca de 750 municípios só têm a Caixa como instituição financeira.
Além disso, Lisboa lembrou que 72% do crédito imobiliário no país é oferecido pela Caixa. Outro ponto de destaque do banco, segundo ele, é a atuação com crédito em períodos de dificuldades econômicas. “São políticas anticíclicas, que todos os países fazem, como os Estados Unidos na crise de 2008”, disse. O técnico afirmou ainda que o banco público é importante para a criação de empregos, como na construção civil, e para o combate ao déficit habitacional.
Fonte: RBA
Data original da publicação: 01/10/2019