Trabalhadores e liberdade: a abolição da escravidão e as comemorações de 1888

Renata Figueiredo Moraes

Fonte: Mundos do Trabalho, Florianópolis, v. 7, n. 13, p. 177-191, jan./jun. 2015.

Resumo: Este texto discute a participação de trabalhadores livres nos festejos pela abolição da escravidão realizados na Corte. Entre eles estão funcionários públicos, tipógrafos e caixeiros. Enquanto os primeiros tiveram o privilégio da folga para celebrar a liberdade dos escravos, os caixeiros precisaram acionar os jornais para reivindicar a participação na festa. Essa dificuldade, de certo modo, estava ligada à própria condição vivida por eles no seu cotidiano de trabalho. Por outro lado, os tipógrafos se viam como trabalhadores importantes para a lei, por terem também atuado na sua confecção gráfica, podendo facilmente celebrar a abolição através de préstitos e confecção de jornais especiais. Apesar do 13 de Maio inaugurar um novo momento no mundo do trabalho, ainda era preciso eliminar algumas relações de dependência e precariedade vivida por trabalhadores livres.

Sumário: Introdução | Trabalhadores em festa | Os tipógrafos | Os demais trabalhadores livres

Introdução

A lei da abolição, assinada em 13 de maio de 1888 no Rio de Janeiro, provocou uma euforia festiva patrocinada e organizada pela imprensa da Corte que, a seu modo, indicou quais festejos e quando deveria ser comemorado o fim da escravidão. O entusiasmo daqueles dias tomou conta de toda a cidade e não foi diferente entre aqueles que já eram trabalhadores livres. Todos queriam testemunhar a grande vitória e o início de um novo tempo de liberdade. Nas folhas diárias que circulavam na Corte, os assuntos que tomavam conta das suas páginas versavam sobre os efeitos daquela conquista e também dos seus responsáveis. Quem não tinha acesso a esses meios tentava participar de algum modo daquele processo. Uma maneira foi através da contribuição de uma quantia para a compra da pena de ouro usada pela Princesa Isabel. Nessa subscrição, vários grupos de abolicionistas, anônimos ou não, divulgaram seu entusiasmo pela abolição. Entre eles estavam trabalhadores que organizaram listas em seus locais de trabalho e nelas informaram qual seria o significado da abolição para eles.2 Além de participar de um ritual, muitos queriam também frequentar a festa e testemunhar os signos que estavam sendo compartilhados por literatos e pela imprensa. No entanto, a participação nos festejos não foi tão simples como para literatos e funcionários da imprensa. Desse modo, este artigo tem como objetivo tratar de alguns grupos de trabalhadores livres que participaram da festa e que de algum modo interpretaram aquele tempo de liberdade, o fim da escravidão, como algo que pudesse afetar também suas próprias relações de trabalho. Através dessa discussão será possível pensar o trabalho livre nos tempos do Império, assim como o impacto do fim da escravidão para o mundo do trabalho pós-abolição.

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Renata Figueiredo Moraes é professora adjunta de História do Brasil – UERJ.

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