O economista Marcio Pochmann criticou a ideia cogitada pelo governo Bolsonaro de decretar estado de calamidade no Brasil. A medida abriria brecha fiscal para bancar subsídios aos combustíveis. Isso porque a legislação permite gastos extraordinários, em ano eleitoral, somente em casos extremos. A guerra na Ucrânia e o risco de desabastecimento de diesel serviriam como justificativas. “É uma indicação inequívoca de que o governo Bolsonaro não está interessado em atuar nas causas da inflação”, disse o economista, em entrevista ao Jornal Brasil Atual, nesta quinta-feira (2). Ele afirmou que essa ideia tem objetivo meramente eleitoral, e não ataca as causas da alta geral dos preços.
De acordo com o economista, é o próprio governo o principal responsável pela alta da inflação. A alta dos combustíveis, por exemplo, é resultado da política de Preço de Paridade de Importação (PPI) que a Petrobras vem implementando nos últimos anos. Pochmann, que é professor da Unicamp, da Universidade Federal do ABC e do Instituto Lula, também citou os recentes reajustes na energia elétrica e nos planos de saúde.
“Ou seja, é o governo quem promove a inflação. E, sem enfrentar essas causas, requer por outro lado atuar sobre as consequências”, destacou o economista.
Sobre a Petrobras, o professor destacou que atualmente é uma das empresas petrolíferas que mais lucram em todo o mundo. Mas a maior parte desses lucros são apropriados pelos acionistas privados da estatal.
“São lucros arcaicos que, na verdade, estão atuando contra a população. Isso é perceptível também no ramo financeiro. Os bancos têm lucros exorbitantes, num país que não cresce economicamente, num país que vê ampliar a pobreza”, afirmou. Para o economista, o Brasil está diante de uma “polarização muito grande entre ricos e pobres”. E para enfrentar esse cenário, não bastam apenas medidas meramente eleitoreiras.
Aumento da pobreza
Somente neste ano, o total de famílias em situação de extrema pobreza inscritas no CADúnico saltou 11,8%. De acordo com Ministério da Cidadania, são cerca de 17,5 milhões famílias brasileiras e viviam com renda per capita mensal de até R$ 105. “É inexorável que um país que não consegue crescer, ativar o sistema produtivo, elevar o nível de emprego, convive agora com inflação que vai corroendo a renda das famílias. Portanto, o resultado é o empobrecimento generalizado”, comentou Pochmann.
Nesse sentido, o economista também criticou o Auxílio Brasil, que abandonou condicionantes de educação, saúde e assistência social que faziam parte do programa Bolsa Família. Ele também destacou o resultado do Censo de Educação do Ensino Superior, que registrou a primeira queda de matrículas nas universidades federais brasileiras desde 1990. “É profundamente trágico para um país que sabe e a revolução informacional e tecnológica exigem brasileiros cada vez mais capacitados, qualificados. Quando você rompe essa trajetória, infelizmente, não sobra muita coisa para imaginar um futuro melhor”.
Fonte: Rede Brasil Atual
Texto: Tiago Pereira
Data original da publicação: 02/06/2022