Saberes no trabalho entre experiências e memórias: reflexões iniciais

Charles Moreira Cunha

FonteTrabalho & Educação, Belo Horizonte, v. 22, n. 3, p. 209-222, set./dez. 2013.

ResumoO artigo interroga o quanto podemos compreender as memórias como experiência que podem se atualizar nos saberes do trabalho. Autores como Maurice Halbwachs (1974, 1994, 2004), Walter Benjamin (1994, 2006), Michael Pollak (1989), Yves Schwartz e Louis Durrive (2007), Paolo Jedlowski (1987, 2003), Jacques Duraffourg (1997), Carlos Rodrigues Brandão (1998) e Ecléa Bosi (1994, 2003) são confrontados em permanência às histórias que narram trabalhadores em nossos encontros de pesquisa, ensino e extensão. Nesse confronto, podemos compreender como memórias individuais e coletivas são coconstruídas e permanecem imbricadas e, sabendo que se nem toda memória pode ser objeto de narrativas, podemos vislumbrar como ela reverbera na forma de saberes nos atos de trabalho.

SumárioIntrodução | 1. O trabalho vivo na memória | 1.1. Saberes são memórias enraizadas na experiência | 1.2. Memória pessoal e social: interdependências | 2. O fio da memória nos enlaces entre tempo e espaço | 2.1. Memórias e espaços vividos | 2.2. O “salto do tigre”, ou da arte de contar histórias | 2.3. A narrativa dos trançados em memória | À guisa de conclusão | Referências

Introdução

Neste artigo, buscamos dialogar com autores que refletiram sobre memórias e experiência buscando neles elementos para compreender a relação com o trabalho – objeto multidimensional e transdisciplinar. Nossos encontros de pesquisa, ensino e extensão com trabalhadores mineiros, docentes, eletricitários, entre outros, têm nos convocado a interrogar sobre e de que modo eles mobilizam saberes no trabalho.

Já sabemos que o trabalho é atividade que carrega consigo ingredientes das diversas outras práticas humanas (SCHWARTZ; DURRIVE, 2007). Esses ingredientes são memórias de experiências passadas e vividas alhures cristalizadas num patrimônio vivo. O ato de trabalhar, no que é requerido em situação, movimenta tal patrimônio. Mas tal mobilização, muitas vezes, requer uma construção por parte do trabalhador para combinar o que traz em si, no seu corpo, como qualidades que o capacitam para agir no trabalho, bem como em outras situações nas quais se encontra imerso.

Autores como Maurice Halbwachs (1974, 1994, 2004), Walter Benjamin (1994, 2006), Michael Pollak (1989), Paolo Jedlowski (1987, 2003), Yves Schwartz e Louis Durrive (2007), Jacques Duraffourg (1997), Carlos Rodrigues Brandão (1998) e Ecléa Bosi (1994, 2003) nos ensinam a olhar as memórias do trabalho como um patrimônio de cada trabalhador, complexo e inacabado, perpassando o presente, feito de experiências e saberes que perduram, transmutam, transformam e reverberam nas mais diversas situações de trabalho nas quais os encontramos. As memórias não são apenas aquilo que se pode narrar, no entanto, no bojo deste artigo, nos restringiremos às mesmas.

Inicialmente refletimos sobre processos e mecanismos de construção das memórias numa articulação indivíduo-social. Prosseguimos colocando em diálogo memória e experiências, olhando e escutando vozes do passado ressoando no presente, mas, sobretudo, mirando a partir das mesmas, saberes vivos guardados e fazendo-se memória em surdina no cotidiano. Ao longo do texto, trazemos memórias de trabalhadores que narram suas experiências em nossos encontros de pesquisa, ensino e extensão.

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Charles Moreira Cunha é Doutor e Mestre em Educação, ambos pela FaE/UFMG, Graduado em Geografia pela PUC-MG. Professor Adjunto da FaE/UFMG.

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