Relações de trabalho em uma universidade pública: atividade de servidores técnicos administrativos

Beatriz Cysne Coimbra
Maria Elizabeth Barros de Barros

Fonte: Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, São Paulo, v. 19, n. 1, 2016.

Resumo: O artigo trata de uma pesquisa-intervenção realizada com funcionários técnicos administrativos de uma Instituição Federal de Ensino Superior (IFES) que ocupam o cargo de assistente em administração. O objetivo principal da investigação foi analisar o trabalho sob o ponto de vista da atividade. A metodologia utilizada se baseou no referencial teórico-metodológico da Clínica da Atividade, proposta por Yves Clot e seus colaboradores. A oficina de fotos foi utilizada como procedimento metodológico. O grupo foi composto por 10 funcionários de diferentes setores da universidade, entre os quais, três se dispuseram a fotografar cenas do cotidiano do trabalho. Tais fotos foram estratégia utilizada para disparar diálogos sobre o trabalho que realizam. A pesquisa indica que os trabalhadores procuram se reinventar e elaborar maneiras outras para enfrentar situações de trabalho que os desafiam, buscando modos diversos de atuar, o que se faz a partir da ampliação do poder de agir.

Sumário: Introdução | Campo problemático da pesquisa | Um encontro: traçando algumas pistas | Oficina de fotos | Fotos: um dispositivo para análise da atividade | Olhares em foco: analisando a atividade | Fotografias: produzindo ressonâncias | O poder de agir dos trabalhadores: “O problema da universidade é o técnico administrativo?” | Considerações finais | Referências

Introdução

Em um outono com um intenso céu azul, ventos fortes, aquecidos pela despedida do verão, promoviam uma dança frenética entre as árvores e seu assobio, que se misturava ao canto dos pássaros do campus de uma Instituição Federal de Ensino Superior (IFES) no sudeste brasileiro. Em meio a esse cenário bucólico uma pesquisa foi sendo delineada.

Buscamos criar condições para que diálogos entre os trabalhadores técnicos administrativos da IFES fossem possíveis, de forma a promover encontros sobre o trabalho, utilizando fotos do ambiente laboral, por eles mesmos registradas, como dispositivo analítico. Foi possível perceber que uma tarefa de arquivamento de um documento poderia gerar uma longa conversa, que indicava que cada trabalhador tem um jeito singular de exercer uma atividade, que não é gesto mecânico, mas, principalmente, criação de modos diversos de trabalhar, uma vez que os sujeitos imprimem marcas ao exercerem-na. Seguindo diretrizes da Clínica da Atividade (Clot, 2008), entendemos que um coletivo de trabalhadores é criado a partir do debate, de tensionamentos, de confrontações sobre os modos como o trabalho é realizado. Para o autor, “[…] a controvérsia é a fonte do coletivo, não o contrário. Não o coletivo sendo a fonte, mas a controvérsia sendo a fonte do coletivo” (Clot, 2008, p. 66).

A pesquisa perspectivou, então, viabilizar debates a partir do trabalho de servidores públicos técnicos administrativos de uma Instituição Federal de Ensino Superior (IFES),ocupantes do cargo de assistente em administração, visando fomentar espaços coletivos de discussão, entendendo que o dialogismo tem potência de transformação do que enfraquece os coletivos em situação de trabalho. Vislumbramos uma avaliação das alianças tecidas por esses trabalhadores para lidar com imprevistos inerentes ao cotidiano laboral, as relações compartilhadas no percurso do trabalhar com vistas à ampliação do poder de agir e a transformação no instituído nos ambientes de trabalho na universidade em tela. A utilização do aporte teórico-metodológico da Clínica da Atividade, proposto por Yves Clot e seus colaboradores, visou dar visibilidade ao liame inventivo do trabalhador, fortalecendo coletivos e criando pistas para a transformação do trabalho a partir da afirmação de protagonismo, autonomia e indagação de uma gestão autoritária e verticalizada que, muitas vezes, marca a organização de trabalho nessa universidade. Empregamos o dispositivo imagético, recorrendo à oficina de fotos apresentada por Cláudia Osório (2011) e seu grupo de pesquisa para disparar a análise coletiva de trabalho.

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Beatriz Cysne Coimbra. Universidade Federal do Espírito Santo (Vitória, ES, Brasil).

Maria Elizabeth Barros de Barros. Universidade Federal do Espírito Santo (Vitória, ES, Brasil).

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