Mariana Pereira da Silva
Marcia Hespanhol Bernardo
Heloísa Aparecida Souza
Fonte: Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, v. 41, 2016.
Sumário: Introdução | A saúde mental relacionada ao trabalho como um problema de saúde pública | O campo da saúde do trabalhador e os sindicatos | Considerações sobre o método da pesquisa | Resultados e discussão | Concepções dos representantes sindicais acerca da relação entre saúde mental e trabalho | Possibilidades de enfrentamento apresentadas pelos representantes sindicais | Considerações finais | Referências
Introdução
O mundo do trabalho na contemporaneidade gera impactos significativos na saúde física e mental dos trabalhadores. As diversas mudanças provocadas pela globalização financeira, pelas inovações tecnológicas e pelas novas formas de gestão interferem diretamente no bem-estar dos trabalhadores, na forma como trabalham e, inclusive, na maneira em que se organizam coletivamente.
Franco et al. apontam que o trabalho na modernidade é marcado pela flexibilização e pela precarização social, ambos possuem diversos aspectos que repercutem negativamente na subjetividade do trabalhador. Segundo as autoras, a precarização no mundo do trabalho é caracterizada por ritmos intensos e aumento da competitividade, falhas na prevenção e diluição das responsabilidades em relação a acidentes de trabalho, falta de reconhecimento e valorização social, fragilização dos vínculos, rupturas de trajetórias profissionais, banalização da injustiça social, dentre outras características que degradam as condições de trabalho e podem levar o trabalhador ao adoecimento físico e mental.
Seligmann-Silva et al. também ressaltam que o contexto de precarização e flexibilização faz os trabalhadores vivenciarem seu trabalho de forma insegura, altamente competitiva, individualizada e em “tensão permanente”, conforme afirma Linhart. Essas condições de trabalho podem conduzir a sérios problemas relacionados à saúde mental, como síndrome de burnout, depressão, suicídios, abuso de álcool e drogas, psicossomatização, workstress, fadigas, entre outros.
Mesmo tratando-se de uma situação que pode ser considerada séria e urgente, as pautas de negociações e lutas dos sindicatos ainda são tímidas com relação aos aspectos referentes à relação entre saúde mental e trabalho, inclusive entre aqueles que, na década de 1980, tiveram uma participação importante na incorporação do campo da Saúde do Trabalhador no Sistema Único de Saúde (SUS) e reconhecem os efeitos deletérios dos modelos de trabalho atuais, conforme se vê em Sato e Bernardo.
Com base nas abordagens da Psicologia social do trabalho e da Saúde mental relacionada ao trabalho (SMRT), foi realizada uma pesquisa que teve como objetivo compreender as concepções de sindicalistas sobre a relação entre saúde mental e trabalho. Os resultados desse estudo mostraram que, no contexto geral, apesar do tema da SMRT ser negligenciado em muitos sindicatos, conforme diversos estudos indicam, existem sindicalistas sensíveis e comprometidos com a temática. Desse modo, busca-se, neste artigo, apresentar as concepções desses sindicalistas, bem como algumas de suas ações que podem indicar rumos para abordagens do movimento sindical que favoreçam o enfrentamento do adoecimento mental relacionado ao trabalho. Para tal, o texto está organizado da seguinte forma: inicialmente, apresentamos uma reflexão sobre a relação existente entre saúde mental e trabalho e traçamos um rápido panorama do movimento sindical na atualidade brasileira. Em seguida, apresentamos os aspectos metodológicos adotados, para finalizarmos com a discussão dos resultados da pesquisa.
Mariana Pereira da Silva. Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Pós-Graduação em Psicologia. Campinas, SP, Brasil.
Marcia Hespanhol Bernardo. Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Pós-Graduação em Psicologia. Campinas, SP, Brasil.
Heloísa Aparecida Souza. Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Pós-Graduação em Psicologia. Campinas, SP, Brasil.