Quero trabalhar!: a experiência marcante dos processos seletivos na subjetividade de jovens universitários

Andréia De Conto Garbin
Heloísa Aguiar da Silva

Fonte: Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, São Paulo, v. 19, n. 1, p. 77-88, 2016.

Resumo: Este estudo teve como finalidade compreender como os processos seletivos repercutem na subjetividade do jovem que busca ingressar no mercado de trabalho. Foram entrevistados oito universitários que passaram por processos seletivos para estágio nos últimos seis meses. Os dados coletados foram analisados à luz da análise do discurso. Os entrevistados relataram sentir ansiedade nos processos seletivos e necessidade de adequar-se ao perfil pedido pela empresa, além de sentimentos de baixa autoestima e culpa diante das tentativas frustradas de inserir-se no mercado de trabalho. Concluiu-se que os processos seletivos acompanham as mudanças e exigências dos novos modelos de gestão do trabalho, exigindo novas qualidades relacionadas à capacidade de autocontrole, qualidade, mudança e mobilidade. Os resultados deste estudo ilustram que as exigências dos processos seletivos reforçam a marginalidade de alguns grupos e aumentam o contingente dos não qualificados. As experiências vivenciadas nos processos seletivos revelam mecanismos excludentes, ênfase em saberes não profissionais e valorização de comportamentos úteis às empresas, em detrimento da qualificação profissional.

Sumário: Introdução | O mercado de trabalho e as novas qualificações | Os jovens e a inserção no mercado de trabalho | Método | Resultados e discussão | Vivências subjetivas | Postura nos processos seletivos | Avaliação dos processos seletivos | Feedback: devolutivas referentes à participação nos processos seletivos | Formação profissional | Conclusões | Referências

Introdução

Todos os anos milhares de jovens universitários procuram estágios ou programas de trainees, buscando assim uma maneira de adquirir experiência profissional e um emprego quando formados. O Programa de Estágio 2013 da Volkswagen, por exemplo, teve mais de 25 mil candidatos disputando 70 vagas, número maior do que a concorrência no vestibular da Fuvest (Centro de Integração Escola-Empresa, 2012).

Em pesquisa publicada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a população jovem apresenta elevado excedente de mão-de-obra e um problema de desemprego latente, além de ser um dos segmentos mais frágeis na disputa por um posto de trabalho, especialmente aqueles com menor renda familiar. A dificuldade acentuada do jovem que busca uma oportunidade de emprego pode ter como explicação sua menor experiência profissional e vivência no mundo do trabalho, além da preocupação com a formação escolar e profissional e a dificuldade para conciliar estudos e trabalho (Dieese, 2006).

Verificamos que mais precocemente os jovens estão enfrentando as exigências dos processos seletivos para ingressar no mundo do trabalho. Este cenário atinge jovens filhos de trabalhadores assalariados e, também, os estudantes universitários que buscam oportunidades de estágios. Esses dois grupos, no entanto, vivenciam diferentemente a inserção no mercado de trabalho, pois a origem social e a história familiar de trabalho delineiam formas mais precárias de inserção, no que se refere à remuneração e ao mercado formal ou informal de trabalho (Frigotto, 2004).

Importante destacar que a inserção dos jovens no mundo do trabalho ocorre no contexto de precarização das condições de trabalho, conforme descrita por Antunes (2007). As características do trabalho atual são formatadas pela lógica da flexibilidade-toyotizada, segundo a qual o trabalhador deve ser mais polivalente e multifuncional em um contexto de terceirização, subcontratação, trabalhos temporários e o empreendedorismo. Para o autor, ocorre que a intensificação dos ritmos, tempos e processos de trabalho e as diversas modalidades de trabalho precarizado acentuam as “clivagens entre os trabalhadores estáveis e
precários, de gênero, dos cortes entre jovens e idosos, entre nacionais e imigrantes, brancos e negros, qualificados e desqualificados, empregados e desempregados” (Antunes, 2007, p. 17).

Castel (1995) aponta que cada vez mais trabalhadores transitam à margem do trabalho e das formas de troca socialmente reconhecidas. São os desempregados de longa duração, jovens à procura de emprego, empregados de modo precário, trabalhadores pouco empregáveis e supérfluos em relação às novas competências e qualificações exigidas no ciclo atual de reorganização do capitalismo mundial.

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Andréia De Conto Garbin. Universidade Presbiteriana Mackenzie (São Paulo, SP, Brasil).

Heloísa Aguiar da Silva . Universidade Presbiteriana Mackenzie (São Paulo, SP, Brasil).

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