As principais capitais do pais voltaram a acolher protestos, com motivo do Primeiro de Maio, contra as reformas de cunho liberal propostas pelo Governo Temer reforçando assim o coro contra as mudanças na Previdência e as leis trabalhistas. Segundo a última pesquisa Datafolha, 71% dos brasileiros é contra a reforma que muda as regras da aposentadoria e 64% dos brasileiros acredita que a nova lei trabalhista, que ainda deve passar pelo Senado, beneficia apenas os patrões.
Um dos primeiros atos do dia no país foi no Rio. Ali, entre os manifestantes,convocados pelas centrais sindicais e partidos da esquerda, estava a médica Lúcia Salis, de 57 anos, que na sexta-feira, dia da greve geral, mal conseguiu protestar. Ela teve que correr da polícia para evitar ser atingida pelo gás lacrimogêneo que os agentes dispararam contra a multidão assim como contra grupos de manifestantes dispersados pela confusão. “Fomos encurralados na Glória. Não houve ato, a manifestação nem conseguiu andar. Foi uma ação deliberada para dispensar o protesto”, lamenta. Hoje a médica, servidora pública, voltou à rua. “O que mais preocupante me parece é que prevaleça negociado sobre o legislado. Como o trabalhador vai negociar com o trabalhador? Como é possível achar que isso será uma negociação equilibrada?”, questiona ela, com gritos de “Fora Temer” ao fundo.
A reclamação coletiva teme pela precarização do trabalhador e pela terceirização. E de trabalho precarizado, a faxineira Helena Tavares poderia falar durante horas. Com 36 anos e mãe de sete filhos ela voltou a estudar com o objetivo de ter sua carteira assinada, como enfermeira ou professora, mas vê na reforma a aceitação das dificuldades que ela já sofre na economia informal. “Não é possível negociar com o patrão porque eles sempre vão querer beneficiar o lado deles. Para eu poder ir nas aulas preciso que meu horário de trabalho seja das 7h às 16h. Pois eles não aceitam. Sempre querem que você fique um pouquinho mais um dia, outro pouco outro dia…”, reclama Helena que também aponta a reticência dos patrões em contratar com carteira assinada para não pagar os direitos do trabalhador. “Eu já represento a reforma trabalhista”, diz.
Outros, como o professor Alcir Oswaldo Rodrigues, apontaram que a reforma trabalhista vai viabilizara violação de direitos que já estão sendo ignorados. “Um amigo meu acabou de aceitar o parcelamento em 20 vezes da multa que a empresa deve pagar pela demissão. 20 meses! É ilegal, mas aceitou porque é isso ou ir na Justiça”, ilustra o professor. “Nós não temos uma fiscalização eficiente no Brasil e as empresas já violam a lei, mesmo com o CLT. O caminho é precarizar ainda mais e deixar o trabalhador sem força para lutar”, lamenta.
Não faltaram vozes contra a reforma da Previdência, entre elas a dos aposentados Marise Pedalino, de 57 anos, Juares del Rei, de 64 e Romel del Rei, de 60. Os três continuam trabalhando como autônomos porque sua aposentadoria, após quatro décadas trabalhando, ou mais, “não é suficiente para viver”. “As reformas são uma pauta ruim para todo mundo. Para nós, para nossos filhos, nosso netos e para o país. Eles querem negociar a jornada, isso não me afeta, mas não se trata da defesa de nosso interesse particular”, lamentava Romel. “O problema é o mais fraco, o operário e a empregada doméstica. Os parlamentares e o Governo estão representando os proprietários do dinheiro, não a gente”.
O ato, dessa vez, correu sem incidentes com a polícia, que foi fortemente vaiada toda vez que atravessou a praça. Sim houve um episódio de agressão por parte de um grupo de manifestantes contra um jovem que quis se manifestar com a bandeira monárquica. Rodrigo Dias, de 35 anos, é médico sindicalizado e monárquico e quis protestar, sem sucesso, alçando sua bandeira do Brasil com a coroa. Num princípio o confundiram com um integrante do Movimento Brasil Livre mas, a verdade é que não houve muita conversa. Ele foi agredido com socos, pontapés e com uma garrafa de cerveja que não chegou a atingi-lo, até que conseguiu se refugiar no hall de um hotel. Parte de seus agressores iam vestidos com coletes da CUT. “Eu sou contra muitos pontos da reforma trabalhista, sou contra a reforma da Previdência e gritei ‘Fora Temer’. Eu até tinha marcado com meus amigos do sindicato”, relatou o médico ao EL PAÍS com a camisa rasgada e arranhões na testa e no braço. “Não imaginei que iam me agredir”.
Fonte: El País
Texto: Maria Martín
Data original da publicação: 01/05/2017