Quatro anos depois, Reforma Trabalhista não gerou ‘boom’ de empregos prometidos. Surpreso?

Já está muito claro que abandonar garantias de manutenção da renda, apostar em informalidade, estimular terceirização, fugir do Judiciário e desistir do trabalho publicamente regulado não está funcionando.

Rodrigo Trindade

Fonte: Revisão Trabalhista
Data original da publicação: 07/10/2021

O título acima é de reportagem do UOL, e diversos veículos de imprensa brasileiros têm apresentado seus diferentes graus de decepção com a Reforma Trabalhista de 2017. O “Surpreso?” ficou por nossa licença.

Aprendemos que não é educado ficar se gabando, dizer que acertamos e o outro errou, mas tem horas que é importante levantar bem alto a plaquinha “eu avisei”. E não foram nem poucos, nem isolados, os alertas. Em lugar algum do planeta precarizar trabalho, obstaculizar o Judiciário e apostar em atividades informais e desguarnecidas de regulação pública funcionou para gerar crescimento econômico – muito menos desenvolvimento. Já era assim em 2017.

Direito do Trabalho não é cegonha de empregos, essa é a função das políticas públicas habilitadas para promoverem condições de crescimento econômico via demanda de produção e consumo. Se houver gestão política minimamente tranquila, melhor ainda. Mas leis ruins de Direito do Trabalho atrapalham – ah, e como vêm atrapalhando.

Em 2017, quando se intensificaram as legislações que vieram a ser conhecidas como Reforma Trabalhista, a propaganda oficial focou na “parte comercial” do produto: fracionamento de férias e disciplina de ações incertas e excessivas eram as preferidas dos novos especialistas televisivos. O que não apareceu foi a essência: uma séria de disposições que, ao permitirem economias imediatistas de obrigações sociais, pudessem levar à explosão de terceirizações, atravancamento judiciário, informalidade e farra de contratações nos mais diversos itens do cardápio de precarização. Conseguiram tudo isso.

O problema foi que muita gente levou o produto para casa, sem perceber o conjunto da obra. O resultado nesses anos leva a pensar em fechar a lojinha, e o último a sair que apague a luz do aeroporto. O desemprego está estabilizado em índices pornográficos, com quase 32 milhões de brasileiros trabalhando menos do que gostariam, ou simplesmente desocupados. Entre esses, há 4 milhões que, simplesmente, não encontram espaço no mercado há mais de dois anos, o dobro de 2016. A partir do ano seguinte à Reforma, houve duplicação do emprego informal – o nome gourmetizado para trabalho ilegal, em que há sonegação direitos trabalhistas e previdenciários básicos.

Ah, mas foi a pandemia. Não, não foi. Até o início da emergência sanitária, o emprego informal era o que mais crescia no país, e o desemprego, já bastante alto, não era muito diferente do que temos hoje. As flechinhas dos gráficos seguem iguais.

Além de estagnação econômica e desindustrialização, a redução da renda na última década já chega em 26,2% para a metade mais pobre do país – dados da FGV Social. Com o crescimento da informalidade nos trabalhos com menos renda, o problema já começa a ser estrutural, montada nos ainda incivilizados serviços por plataformas digitais, e suas resistências em aceitar jurisdição e cumprimento de obrigações sociais.

Já está muito claro que abandonar garantias de manutenção da renda, apostar em informalidade, estimular terceirização, fugir do Judiciário e desistir do trabalho publicamente regulado não está funcionando. E não vai funcionar. Não é orgulho de ter acertado, é esperança que os equívocos não se repitam, e a plaquinha nunca mais precise ser levantada. Oxalá!

Rodrigo Trindade é professor universitário, ex-Presidente da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 4ª Região – AMATRA IV, juiz do Trabalho na 4ª Região.

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