Proposições teóricas sobre a categoria trabalho e sua abordagem na geografia

Cristiane Ferreira de Souza França

Fonte: Pegada, Presidente Prudente, v. 17, n. 2, p. 251-268, dez. 2016.

Resumo: Busca-se, por um lado, demonstrar a pertinência da reflexão teórica da categoria trabalho contemporaneamente, não obstante se detectar desde os anos 1980, o nascimento da tese do fim da sociedade do trabalho e, por outro lado, intentamos destacar como o trabalho é abordado na Ciência Geográfica historicamente sobressaindo, ainda, os desafios desta reflexão ante a necessidade da adoção de instrumentos teórico-metodológicos que possibilite se apreender as nuanças que caracterizam o trabalho hoje. Para tanto, realizou-se uma revisão bibliográfica que proporcionou se dialogar com autores clássicos, que demonstram o caráter ontológico do trabalho, escritores que atestaram o fim da centralidade do trabalho e ainda pesquisadores cujas argumentações foram na contramão da referida tese, reafirmando a pertinência dessa categoria nos marcos do período de acumulação flexível.

Sumário: Introdução | André Gorz, Claus Offe e a tese do fim da centralidade do trabalho | Antunes, Teixeira e Frederico, Chesnais e Harvey: a reafirmação da centralidade do trabalho | Reflexão teórica sobre a categoria trabalho na geografia | Considerações finais | Referências bibliográficas

Introdução

Discutir trabalho na Geografia é expresso como duplo desafio – teórico e metodológico. Teórico porque, apesar da condição de ciência que objetiva compreender a relação sociedade-natureza, ela não o considerou historicamente, como uma das principais categorias para a compreensão do real. E metodológico, pois, não havendo a tradição dessa abordagem, como um dos conceitos principais, no âmbito das pesquisas sobre o espaço geográfico, há a necessidade de tecermos nossos caminhos, uma vez consciente de que não há como menosprezar essa categoria ontológica fundamental, apesar do alarde sobre o fim da sociedade do trabalho – que teve início nos países do capitalismo central ainda nos anos 1980. A Geografia avançou nos últimos anos, todavia, no que tange à reflexão sobre o mundo do trabalho, destacando-se as contribuições de geógrafos como Ruy Moreira e Thomaz Júnior que, inclusive coordena o Centro de Estudos de Geografia do Trabalho – CeGet na UNESP/Presidente Prudente, criado nos anos de 1990, e que conforma uma rede de pesquisa com pesquisadores de Goiás, Paraná e Paraíba.

Salientamos que a reflexão proposta exprime relevância perante a atual conjuntura brasileira, na qual vivenciamos um brutal ataque aos direitos trabalhistas no País, momento em que a contradição entre capital x trabalho fica mais aclarada, demonstrando que, para o capital e sua classe hegemônica, importa cada vez mais o trabalho flexibilizado, terceirizado, de onde possa extrair em menor tempo a mais-valia da qual não pode prescindir. Nesse sentido, compreendemos a importância de reconstituirmos as contraposições do debate sobre a centralidade da categoria trabalho, contemporaneamente, ressaltando ainda essa reflexão no seio da Ciência Geográfica.

Esse artigo compreende, além desta introdução, quatro seções. Na primeira, tecemos algumas considerações sobre o caráter ontológico da categoria trabalho, recorrendo a autores clássicos, como Engels (2004), Marx (2003; 2013) e Lucáks (2012; 2013). Em seguida, expomos a tese do fim da centralidade do trabalho, com suporte em Gorz (1980) e Offe (1985), para, na terceira seção, nos contrapormos a essa teoria e reafirmarmos a centralidade dessa categoria, tendo por base pesquisadores como Antunes (2007; 2009), Teixeira e Frederico (2009), Chesnais (1996) e Harvey (1992). Recobrada a relevância da categoria trabalho com amparo no diálogo entre os referidos autores, buscamos na quarta seção demonstrar como, no âmbito da Geografia, a categoria trabalho é abordada. Nesse sentido, realizamos breve revisão teórica, apoiando-nos em Moreira (2007, 2008, 2008b) e Thomaz Júnior (2002; 2007; 2014). Por fim, lançamos nossas considerações finais.

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Cristiane Ferreira de Souza França é doutora em Geografia pela Universidade Estadual do Ceará (UECE).

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