As mulheres estão cada vez mais escolarizadas, mas, ao mesmo tempo, os efeitos positivos do mercado de trabalho tipicamente associados com o ensino superior estão em declínio. Muitas mulheres não trabalham, não porque não querem trabalhar, mas por conta das tradicionais normas de gênero do país, que visam garantir a “pureza” da mulher.
Rohini Pande e Charity Troyer Moore
Fonte: Opinião & Notícia, com The New York Times
Data original da publicação: 24/08/2015
A Organização Internacional do Trabalho classificou a Índia como o 11º pior país em relação à participação feminina no mercado de trabalho. Trabalhar faz com que as taxas de violência doméstica diminuam, além de aumentar a tomada de decisões das mulheres no ambiente familiar. Pelo lado econômico, o mercado de trabalho fica mais eficiente e cresce mais rápido. Para o governo indiano manter o progresso do país nos rankings de países de renda média, ele precisa entender que a participação feminina no mercado de trabalho está caindo e, assim, desenvolver uma política eficaz.
Dados mostram um cenário complexo. As mulheres estão cada vez mais escolarizadas, mas, ao mesmo tempo, os efeitos positivos do mercado de trabalho tipicamente associados com o ensino superior estão em declínio. Muitas mulheres não trabalham, não porque não querem trabalhar, mas por conta das tradicionais normas de gênero do país, que visam garantir a “pureza” da mulher, protegendo-as de outros homens que não sejam seus maridos, além de restringir a mobilidade delas fora de suas casas.
Nas regiões rurais da Índia, muitos homens impedem que suas filhas, esposas e noras deixem suas vilas para serem trainees. Os empregadores, por sua vez, temem que elas recusem ofertas de cargos efetivos. Já nas áreas urbanas do país, onde os postos de trabalho estão geograficamente mais próximos, as mulheres lutam contra a falta de acesso às redes de trabalho tradicionalmente dominadas por homens. Então, as mulheres acabam em cargos com rendas mais baixas e em posições inferiores a suas reais habilidades. Desta forma, elas acabam menos propensas a aceitar esses empregos, especialmente se os rendimentos da família estiverem em crescimento.
A Índia, portanto, precisa de políticas que criem uma demanda rápida e generalizada para o trabalho das mulheres. Na ausência de um setor industrial em rápido crescimento que crie postos de trabalho para as mulheres, a resposta para a Índia pode ser aumentar as cotas de gênero no mercado de trabalho.
A Índia já utilizou com sucesso as cotas em eleições locais. Pesquisas mostram que em lugares com cotas, mais mulheres entram na disputa e vencem, mesmo depois das cotas não serem mais utilizadas. As cotas aumentam as aspirações dos pais em relação a suas filhas, além das próprias aspirações das mulheres. O aumento na eleição de de líderes femininas também traz efeitos positivos para as mulheres em geral. Mais fundos são utilizados em benefício das mulheres e elas ficam mais propensas a falar sobre atos de violência.
Rohini Pande é professora de Políticas Públicas e co-diretora da iniciativa Evidência para Formulação de Políticas da Universidade de Harvard.
Charity Troyer Moore dirige o programa sobre a Índia da iniciativa Evidência para Formulação de Políticas da Universidade de Harvard.