Pandemia provocou retrocesso de “20 anos” na situação das mulheres, diz agência da ONU

Os dois anos de pandemia de Covid-19 deterioraram as condições de vida das mulheres no mundo, segundo um documento divulgado na segunda-feira (07/03) pela agência ONU Mulheres. As principais causas dessa situação são a degradação da saúde mental, a dificuldade do retorno à vida profissional e o aumento da violência de gênero. 

Em novembro de 2021, a agência ONU Mulheres publicou os resultados de uma investigação baseada nos depoimentos de 16.154 mulheres em 13 países de renda média, como a Colômbia, a Ucrânia, o Marrocos e Bangladesh. Desse total, 45% declararam ter sido vítimas de violência desde o início da pandemia.

“A incerteza econômica, o fechamento de escolas ou a sobrecarga mental do trabalho doméstico criaram um ambiente propício ao conflito intrafamiliar”, explicam LynnMarie Sardinha e Avni Amin, pesquisadoras da Organização Mundial da Saúde (OMS). Assim como antes da pandemia, as mulheres sofrem com a violência presente nas redes sociais, mais do que os homens.

“O ‘revenge porn’ (disseminação não autorizada de conteúdo pornográfico filmado com uma pessoa) e o risco em termos de pedofilia aumentaram de forma preocupante”, acrescenta Muriel Salmona, psiquiatra especializada no estudo da Síndrome do Stress Pós-Traumático.

Saúde mental

A investigação da ONU revela que duas em cada cinco mulheres sentiram o impacto negativo da pandemia na sua saúde mental. A sobrecarga mental do trabalho doméstico causa “maiores riscos de estresse e depressão entre as mulheres do que entre os homens”, explicam LynnMarie Sardinha e Avni Amin. Essa situação piorou com o trabalho à distância, os cuidados com os filhos em casa e as restrições de mobilidade.

Durante os lockdowns, as mulheres tiveram que informar as autoridades sobre seus movimentos, assim como os homens. Mas também muitas vezes aos seus parceiros, explica Marion Tillous, professora de geografia e estudos de gênero da Universidade de Paris VIII. Este contexto diminuiu a confiança das mulheres, “que agora ousam menos se afastar” de suas casas, acrescenta.

Difícil adaptação ao trabalho à distância

As pesquisadoras da ONU criticam a postura das empresas, que dificultam a conciliação entre o trabalho a distância e o trabalho doméstico. “Muitas outras mulheres foram forçadas a renunciar porque não conseguiam lidar com o duplo estresse de sua profissão e a sobrecarga mental do lar”, dizem as pesquisadoras da OMS.

A análise da mobilidade feminina durante a pandemia mostra que elas passavam mais tempo nos afazeres domésticos do que no trabalho, em comparação com os homens e em relação à situação anterior à pandemia. Os estudos revelam que “as desigualdades aumentaram, provocando um retrocesso de 20 anos”, explica Tillous.

Para LynnMarie Sardinha e Avni Amin, a crise de saúde demonstrou as consequências da desigualdade na divisão do peso das tarefas domésticas. “A pandemia foi uma oportunidade de imaginar um futuro diferente e mais igualitário para as mulheres, especialmente para aquelas que mais sofrem com a exclusão e a marginalização”, explicam.

Fonte: RFI
Data original da publicação: 07/03/2022

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