Clemente Ganz Lúcio
Quem entrou no mercado de trabalho depois de 2004 muito provavelmente desconhece o que é o desemprego estrutural ou de longa duração, esse facão que destrói vidas, sonhos e perspectivas. Por aproximadamente uma década, a geração de empregos foi resultado de uma dinâmica econômica de crescimento em um ambiente de expectativa favorável sobre o futuro.
Há algum tempo, a situação mudou e a crise econômica, fenômeno cíclico no capitalismo, ganhou predominância. A incerteza sobre o futuro voltou. A crise mundial é muito grave e atinge o Brasil. Porém, esta nossa crise também decorre de vários problemas internos, sobrepostos. Estamos dentro de uma grande tempestade econômica e política, que tem efeitos devastadores sobre o emprego e os salários. O que podemos dizer aos jovens é que essa grande turbulência vai passar, que sairemos dela. O que ninguém sabe dizer é quando.
O período é de resistência à destruição que a crise provoca, acionando todos os mecanismos e instrumentos de proteção. É preciso ter claro que a prioridade é preservar os empregos, oferecer proteção aos desempregados e oportunidades rápidas de acesso à renda. Além da proteção às pessoas, essa ação deve resguardar e reanimar um vetor dinamizador da economia, que é o mercado interno, movido pela capacidade de consumo das famílias.
Além de resistir, é preciso insistir vigorosamente na retomada do crescimento econômico, condição para a geração e sustentação dos empregos. A atividade econômica precisa ser reanimada, com as empresas decidindo produzir. Mas essa decisão só será tomada se houver confiança de que haverá consumidores internos e externos (pessoas, famílias, empresas, governos) dispostos a comprar. Sem demanda, não há produção e, muito menos, investimento para ampliar a capacidade produtiva.
Os trabalhadores compram e consomem se tiverem, antes de tudo, emprego e salário e, nessa condição, o crédito ajuda muito para antecipar o consumo. As empresas competitivas investem na produção se souberem que concorrerão em condições equânimes, com estabilidade nas regras, infraestrutura adequada para sustentar a produção e se a demanda for efetiva no tempo. Todos apostarão no presente, se houver confiança no futuro.
Os jovens de hoje viveram um período de expectativas favoráveis, sonharam e projetaram suas vidas, tiveram campo favorável para construí-las até aqui e novas adversidades mostraram a eles que a superação não ocorre de maneira solitária, mas em conjunto, unindo forças e revigorando as instituições capazes de colocar em movimento a dinâmica do crescimento.
O sindicato é uma ferramenta de resistência e insistência na superação da crise. Descobri-lo como instrumento de luta é uma oportunidade. Fazer do sindicato um espaço para debater as saídas locais, setoriais, nacionais e internacionais para a crise é um momento raro de formação. Lutar para implementar essas medidas é aprender a construir expectativas favoráveis que levam a decisões que antecipam o futuro, fazendo do presente um momento de construção e investimento. Decidem pessoas, famílias, organizações, empresas e governos.
A boa luta dos sindicatos inclui, além de elaborar os diagnósticos, desenvolver a capacidade de produzir e apresentar propostas – o que, como e quando fazer -, debatê-las, negociá-las, atuar para implantá-las e trabalhar para construí-las diariamente.
Clemente Ganz Lúcio é sociólogo, diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES).