Os impasses e as potencialidades das práticas autogestionárias das cooperativas de trabalho da economia solidária

Eliene Gomes dos Anjos

Fonte: Cadernos Gestão Social, Belo Horizonte, v. 5, n. 2, p. 287-306, jul./dez. 2014.

Resumo: Esta investigação analisa as formas de gestão das cooperativas de trabalho do campo da economia solidária. Busca-se compreender a diversidade dessas práticas, seus sentidos e dilemas enfrentados pelos(as) trabalhadores(as) para garantirem uma gestão participativa que permitiria uma experiência democrática na tomada de decisão dos rumos do trabalho associado. Para tanto, manuseia-se dados quantitativos oriundos do Primeiro Mapeamento da Senaes e uma observação sistemática do cotidiano de quatro cooperativas, em Salvador/Bahia. A pesquisa demonstrou que a vivência autogestionária é caracterizada pela heterogeneidade de situações e processos, não estando restrita a modelos preconcebidos. Além disso, verificou-se que há um protagonismo crescente de diversos atores externos ao quadro de associados(as) na gestão de tais empreendimentos.

Sumário: Introdução | Diversas acepções sobre a autogestão | Contextualização das cooperativas de trabalho mapeadas | A gestão coletiva e a dimensão socioeconômica nos dados estatísticos | As experiências autogestionárias de quatro cooperativas na terra de “todos os santos” | Contextualização das cooperativas | As práticas autogestionárias e as entidades de assessoria | Conclusão | Referências

Introdução

A autogestão é um modelo democrático e coletivo de gestão, embasado historicamente no ideário socialista, no qual a propriedade, as decisões e o controle do empreendimento são exercidos pelos(as) trabalhadores(as) (NAHAS, 2006). O movimento cooperativista de Robert Owen, os falanstérios de Charles Fourier, a democracia industrial defendida por Proudhon e as Comunas de Paris são exemplos teóricos e práticos de experiências emancipatórias via práticas autogestionárias.

Analisando a autogestão como uma categoria política, Nahas observa que

[…] a autogestão em seu sentido pleno ou macrossocial, representa uma ruptura e uma revolução paradigmática, pois trata de um sistema de organização de toda a sociedade, incluindo as instituições políticas, sociais, econômicas e produtivas nas quais inexistem a divisão social do trabalho e a separação entre economia e política, o Estado, o mercado e as classes sociais. De acordo com essa proposta revolucionária, a autogestão não se resume aos limites das empresas, mas é um projeto global de sociedade. (2006, p. 37).

Se a emancipação não foi conquistada com os movimentos cooperativistas, essas práticas não perderam o germe desse processo. Isso tanto é verdade que a autogestão, em seus diversos estágios, revigora as experiências solidárias que lutam pela oportunidade de uma inserção econômica na qual a produção social não seja expropriada dos(as) que a produzem. A autogestão não é uma ideia nova, ela está presente em temporalidades históricas múltiplas, como será demonstrado no decorrer do artigo.

A expansão de arranjos econômicos no contexto de crise de hegemonia do capitalismo, em meados da década de 1980 e começo dos anos de 1990, deram origem a diversos estudos sobre a gênese, os sentidos, os significados e as possibilidades dessas organizações de tipo associativo. Resultantes, em sua maioria, das transformações ocorridas nas duas últimas décadas do século XX, tanto na economia quanto na sociedade. Essas iniciativas foram majoritariamente denominadas de economia solidária no Brasil. Uma expressão conceitual que nomeia uma heterogeneidade de experiências econômicas que possuem traços comuns, que por sua vez as distinguem das iniciativas econômicas do tipo capitalista pela gestão coletiva dos empreendimentos, dentre outras características.

Neste contexto, este artigo analisa as formas de gestão das cooperativas de trabalho do campo da economia solidária. Buscamos compreender a diversidade dessas práticas, seus sentidos e dilemas enfrentados pelos(as) trabalhadores(as) para garantirem uma gestão participativa que permitiria uma experiência democrática na tomada de decisão dos rumos do trabalho associado.

Para tanto, utiliza-se da pesquisa quantitativa, com dados do Primeiro Mapeamento Nacional dos Empreendimentos Econômicos Solidários, realizado entre 2005 e 2007; e da pesquisa qualitativa, com a observação direta nos circuitos da economia solidária e quatro estudos de caso, em Salvador/Bahia. A pesquisa demonstrou que a vivência autogestionária é caracterizada pela heterogeneidade de situações e processos, não estando restrita a modelos preconcebidos. Além disso, verificou-se que há um protagonismo crescente de diversos atores externos ao quadro de associados(as) na gestão de tais empreendimentos.

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Eliene Gomes dos Anjos é Doutora em Ciências Sociais (2012) pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), com Programa Sanduíche na Universidade de Valência, na Espanha. Mestrado (2005) e Graduação (1998) em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atualmente é professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Participa da INCUBA e do Grupo Desenvolvimento da Agricultura Familiar e da Agroecologia (DAFAG). Desenvolve pesquisas sobre o Cooperativismo, Economia Solidária, Trabalho Associado, Gênero e Etnia.

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