“A prevalência de contratos temporários de curta duração pode exacerbar a sensação de insegurança dos trabalhadores, aumentando a volatilidade de suas rendas e frustrando suas carreiras profissionais. A evidência sugere que a taxa de pobreza cresce quanto menor a duração do contrato “, afirma o relatório publicado na quarta-feira, 13/02, pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). E na comparação do peso desses contratos na Europa, a Espanha bate recordes.
A OIT alerta sobre os riscos crescentes de precariedade. “Depois de ter se estabilizado entre 2014 e 2016, a incidência de trabalho temporário está crescendo novamente na Europa. A porcentagem de trabalhadores temporários sobre o total está aumentando especialmente na Espanha, onde em 2017 chegou a 26,8%, a maior porcentagem desde 2008 “, diz o documento da OIT.
A agência da ONU que reúne governos, empregadores e trabalhadores de 187 países incide assim em um fenômeno já conhecido: a recuperação do emprego na Espanha nos últimos anos tem sido feita, como aconteceu durante o boom do tijolo, dando prioridade aos contratos de pior qualidade.
Do total de contratos temporários que a Espanha tinha em 2017, cerca de 60% tinham uma duração de seis meses ou menos. Uma porcentagem à frente da Croácia, Itália,Bélgica e Finlândia, todos com mais de 50% de contratos curtíssimos sobre o total de contratos temporários. No extremo oposto estão a Alemanha, os Países Baixos, a Dinamarca e a Áustria, onde o peso dos contratos de seis meses ou menos é inferior a 25% do total de contratos temporários. Na Alemanha e na Dinamarca, os empregos de mais de um ano de duração representam mais de metade dos contratos temporários, enquanto na Espanha cerca de 10%.
Emprego a tempo parcial
“Não surpreende que os países onde a duração média dos contratos seja relativamente curta, tenham maior probabilidade de registrar altas porcentagens de emprego temporário involuntário”, diz o relatório. Como exemplo negativo, a Espanha volta a se destacar, pois, como se sabe, é neste país que mais de 85% dos empregados temporários estão nessa situação, porque não encontraram um emprego por tempo indeterminado. A Espanha, mais uma vez, lidera aspectos negativos do mercado de trabalho europeu. Países como Bélgica, Grécia e Itália também registraram uma alta porcentagem, acima dos 75%. Ao contrário, mais de 90% dos trabalhadores temporários austríacos fazem esta opção por vontade própria; percentagem que na Alemanha permanece em 85%.
A OIT também analisa que parte do emprego a tempo parcial é explicado por uma decisão pessoal – ou porque a parte afetada deseja passar mais tempo com a família ou porque está estudando, ou está num estágio numa empresa – e quais são as condições de trabalho em um país, incapaz de oferecer ao trabalhador um dia inteiro de trabalho.
Mulher e o trabalho temporário
A geografia não é a única variável analisada pela OIT. A diferença de gênero é clara ao se verificar a diferença dos motivos que os trabalhadores têm para optar por um contrato de meio período. Entre as mulheres, 34% têm contratos de algumas horas para dedicar mais tempo às responsabilidades familiares, como cuidar de crianças, enquanto entre os homens esse percentual cai para 16%.”Mais uma vez, esses resultados ressaltam a importância das políticas públicas destinadas a aliviar a carga das responsabilidades familiares, que muitas vezes impedem as mulheres de participar 100% no mercado de trabalho”, afirma o relatório da OIT.
A agência da ONU fixa sua atenção também na evolução dos salários. E conclui que os salários em 52 países ricos têm impulsionado um crescimento real muito baixo desde 2000, sempre abaixo de 2%. Em 2016 cresceram 1,2% e, em 2017, 0,8%. Esse crescimento anêmico pode ser atribuído à pobre evolução dos preços na França e na Alemanha e à “queda dos salários reais” na Espanha, na Itália e no Japão. “Apesar disso, dados publicados recentemente sugerem que o crescimento nominal dos salários pode estar ganhando força em alguns países”, acrescenta o texto. Como contraponto, a OIT aponta para três países da UE onde a queda do desemprego em 2018 foi especialmente importante: a Grécia, com uma diminuição de 2,3%, Portugal (2%) e Espanha (1,7%).
Fonte: IHU On-Line, com El País
Texto: Luis Doncel, com tradução do CEPAT
Data original da publicação: 15/02/2019