Fernando de Araújo Bizerra
Juliana Carla da Silva Gois
Manuella Aragão Pinheiro
Fonte: Em Pauta, Rio de Janeiro, v. 14, n. 37, p. 61-87, 1. sem. 2016.
Resumo: Tendo em vista que nas últimas décadas o sistema do capital vem vivenciando uma crise sem precedentes que, por sua vez, como consequência direta, provoca alterações nas relações de produção, recoloca-se, sem dúvida, a necessidade de se continuar refletindo sobre as questões que permeiam a categoria trabalho. Neste artigo, em particular, tem-se o propósito de abordar as configurações assumidas historicamente pelo trabalho improdutivo na dinâmica irrefreável e expansionista do capitalismo no século XX. Apreende-se, num primeiro momento, que as atividades monótonas e repetitivas típicas do padrão taylorista-fordista foram possíveis graças à gerência científica exercida pelos trabalhadores improdutivos. Seguidamente, demonstra-se que, ao se expandir por diversos setores, conjugando-se com as exigências da fábrica toyotista, essa forma de trabalho assume contornos específicos. Esses, dentre outros, são os aspectos que compõem o presente estudo.
Sumário: Introdução | Trabalho produtivo e trabalho improdutivo: breves diferenças ontológicas | O trabalho improdutivo na vigência dos “anos dourados” | O trabalho improdutivo no contexto da produção toyotista | Considerações finais | Referências
Introdução
Desde a segunda metade do século XX, numa delimitação histórica mais precisa, assiste-se a uma verdadeira epidemia de teorias que promulgam o fim da centralidade do trabalho no mundo dos homens e, no aspecto sociopolítico, o “adeus ao proletariado”. Os argumentos, por vezes, são os mais variados. Sustenta-se – como é o caso de Schaff, Lojkine, Bell, Toffler, embora com diferenças – a afirmação de que o incremento pujante das tecnologias computadorizadas na produção, como a automação e a informatização, ao ampliar as possibilidades de difusão do conhecimento, constituem o anúncio e a potencialidade de uma nova civilização, nitidamente pós-mercantil, mais justa e igualitária. Sendo, assim, totalmente diferente da industrial: a “sociedade de informação”.
Por meio dela, a humanidade seria levada, aos poucos, a um novo patamar organizacional situado para além do capitalismo, pois
A sociedade de informação, segundo seus teóricos, gera mudanças no nível mais fundamental da sociedade. Inicia um novo modo de produção. Muda a própria fonte da criação de riqueza e os fatores determinantes da produção. O trabalho e o capital, as variáveis básicas da sociedade industrial, são substituídas pela informação e pelo conhecimento. A teoria do valor do trabalho, da maneira formulada por uma sucessão de pensadores clássicos, de Locke e Smith a Ricardo e Marx, é obrigada a ceder lugar a uma ‘teoria do valor do conhecimento, e não do trabalho, e a origem do valor’. (KUMAR, 2006, p. 24).
Alega-se, ainda, que a produção flexível típica das fábricas enxutas toyotistas e a expansão do setor de serviços provocaram mudanças que, ao serem positivas para quem labuta diariamente, deixaram para trás o trabalho tedioso, ingente e monótono que implica a desqualificação dos operários, abrindo espaço para a requalificação do trabalho, para a fusão entre o trabalho manual e o intelectual e, por que não, o produtivo e o improdutivo. Os antagonismos que balizam a divisão do trabalho tipicamente capitalista estariam, por definitivo, sendo superados.
Em se tratando das categorias trabalho produtivo e improdutivo, desde os fisiocratas, passando por Smith, Marx, até autores contemporâneos como Mandel, Rubin, Napoleoni e outros, as polêmicas em torno delas foram se construindo. Abre-se nitidamente uma linha divisória de análises saturadas de dissonâncias. Como bem constata Dal Rosso (2014), não existe, na literatura produzida, uma leitura inteiramente consensual; ao contrário, ela é, segundo o autor, “de natureza inteiramente diversa”. No entanto, embora reconheçamos esse fato de grande importância, não é sobre ele que nos debruçaremos aqui.
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Fernando de Araújo Bizerra é Assistente Social, Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Serviço Social (PPGSS) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Professor Assistente do Curso de Serviço Social da UFAL – Campus Arapiraca/Unidade Educacional de Palmeira dos Índios. Membro do Grupo de Pesquisa sobre Reprodução Social.
Juliana Carla da Silva Gois é Assistente Social, Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Serviço Social (PPGSS) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Assistente Social do Campus Arapiraca do Instituto Federal de Alagoas (IFAL). Membro do Grupo de Pesquisa Mercado de Trabalho do Serviço Social.
Manuella Aragão Pinheiro é Assistente Social, Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Serviço Social (PPGSS) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Assistente social do Campus A. C. Simões da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Membro do Grupo de Pesquisa sobre Reprodução Social.