O setor de tecnologia da informação: o que há de novo no horizonte do trabalho?

Maria Aparecida Bridi

Fonte: Revista de Ciências Sociais: Política & Trabalho, n. 41, p. 277-304, out. 2014.

Resumo: O artigo parte da indagação sobre o que é novo no horizonte do trabalho. Para isso, perfila os estudos sobre as configurações do trabalho no setor de Tecnologia da Informação (TI), um setor que contém elementos paradigmáticos do trabalho no século XXI. Contextualiza o setor de TI no Brasil e no Paraná. Analisa a “indústria” de informática, as empresas produtoras de computadores (hardware – fabrico de desktops, notebooks, servidores e componentes) e aquelas que produzem programas de computadores (softwares), reparação, manutenção e suporte informacional. Com uma metodologia qualitativa, realização de entrevistas com trabalhadores e empresários, visitas técnicas e de literatura pertinente, o artigo apresenta as condições de trabalho em empresas de TI e destaca que, nas franjas e no núcleo do setor analisado, os “trabalhadores informacionais” encontram-se imersos em condições de trabalho diversas e heterogêneas e sob o signo de novos paradigmas organizacionais assentados, por exemplo, na flexibilidade nas formas de contratação e do trabalho.

Sumário: Introdução | Indústria de informática no Brasil: a reestruturação econômica dos anos 1990 e seus efeitos no setor | O mercado de trabalho na “Economia da Informação”: o subsetor de software | Remuneração do profissional de TI e a modalidade de pagamento do Ponto de Função | O setor de TI no Paraná: heterogeneidade do mercado de trabalho e das condições de trabalho | A produção do hardware: um esboço | Considerações finais | Referências

Introdução

Do cenário de transformações no mundo do trabalho desde os anos de 1970 e, particularmente, daquele desenhado pelas novas tecnologias de informação, decorreram teses propugnando o potencial de um trabalho emancipado e livre da subordinação ao capital, o fi m do trabalho alienado e o desaparecimento do trabalho fordista/taylorista. Isso remeteu-nos à necessidade de voltarmo-nos empiricamente para as configurações do trabalho em Tecnologia da Informação (TI), especificamente na “indústria da informática”, compreendida aqui como aquela que produz os equipamentos informáticos, programas, sistemas operacionais, reparação, suporte e manutenção. Esse setor faz parte da Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC) e corresponde à Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) que, buscando seguir os padrões internacionais, engloba também a telefonia e os meios de comunicação, além de equipamentos de escritório, de medição, dentre outros. Excluindo, nesse artigo, as atividades ligadas à comunicação, nos debruçamos sobre o setor específico de Tecnologias de Informação (TI), ou seja, as atividades ligadas à informática, que por sua vez são compostas também por subsetores, como é o caso da produção de software. Desta forma, nosso objetivo neste trabalho é identificar e analisar as configurações de trabalho no setor de TI (software e hardware), com vistas a contribuir com o debate sociológico sobre o trabalho no século XXI, muito pautado pela flexibilidade dos processos, dos vínculos e das modalidades contratuais.

Enquanto no âmbito internacional ocorria a difusão dos microcomputadores e a comunicação por meio da internet abria novos campos e possibilidades na economia, no Brasil, esse setor, que vinha se desenvolvendo de modo não dependente de empresas estrangeiras no período anterior a 1990, a partir dessa década, quando o país esteve em franco processo de liberalização de sua economia no rastro do Consenso de Washington, a informática passou por mudanças cruciais no que se refere à sua desnacionalização e às alterações em seu escopo, como veremos de modo breve nesse artigo.

Com uma metodologia qualitativa e atenta ao “novo”, buscou-se, por meio de entrevistas com trabalhadores e empresários, visitas a empresas e literatura pertinente, analisar algumas das indagações que perfilaram esse estudo: o que é novo no horizonte do trabalho? Como se configura o trabalho, as condições de trabalho e a remuneração no setor de TI, no Brasil e no Paraná?

Com a emergência desse setor, considerado capital produtivo de primeira linha, surgiram novas categorias profissionais, concebidas neste artigo como “trabalhadores informacionais”, compostas por técnicos, programadores de software, designers, consultores, prestadores de serviços, de manutenção e uma gama complexa de atividades vinculadas à indústria da informática, que contribuíram para a heterogeneidade do mercado de trabalho no Paraná. Nas franjas e no núcleo dessa indústria, os trabalhadores encontram-se imersos sob o signo dos novos paradigmas organizacionais: flexibilização do trabalho, das relações contratuais, das terceirizações e subcontratações.

Com base em indicadores de institutos como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Observatório Softex, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e também do Sindicato dos Trabalhadores Informacionais no Paraná, situamos brevemente o setor de TI no contexto regional e nacional, onde verificamos que este é marcado pela heterogeneidade e dualidade em seus diferentes subsetores no que tange, por exemplo, a temas como organização característica do “trabalho informacional”, condições de trabalho e remuneração.

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Maria Aparecida Bridi é Socióloga, Doutora em Sociologia, Professora do Departamento de Ciências Sociais (DECISO) e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFPR (PPGS).

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