Maternidade e trabalho: algumas reflexões sobre mulheres em ocupações de nível superior

Cláudio Santiago Dias Jr.
Ana Paula Verona

Fonte: Revista Brasileira de Sociologia, v. 4, n. 7, p. 111-133, jan./jun. 2016.

Resumo: O objetivo deste trabalho é examinar como mulheres em ocupação de nível superior conciliam trabalho fora do ambiente doméstico e maternidade, ao longo de suas vidas e carreiras. A hipótese principal sugere que determinadas características das ocupações das mulheres podem demandar diferentes estratégias em relação ao momento e à quantidade de filhos. Foram realizadas entrevistas com mulheres de trinta anos e mais de idade, em ocupações de nível superior, residentes em Belo Horizonte (MG) em 2011. Os resultados apresentam diferentes trajetórias e estratégias encontradas pelas mulheres, apontam a dificuldade em conciliar trabalho e maternidade e revelam sonhos, desejos e angústias.

Sumário: 1. Introdução | 2. Aumento da participação feminina no mercado de trabalho: o caso brasileiro | 3. Maternidade e mercado de trabalho feminino | 4. Dados e metodologia | 5. Primeiras análises | 5.1 Vida profissional e maternidade: algumas considerações | 5.2 Esquemas de conciliação entre trabalho, família e participação do marido | Considerações finais | Referências bibliográficas

1. Introdução

As desigualdades de gênero são observadas em diferentes esferas da sociedade. Mesmo com os avanços sociais, econômicos, políticos e culturais observados nas últimas décadas, as mulheres continuam em desvantagem em relação aos homens. Neste sentido, tanto o mercado de trabalho como o ambiente familiar ainda podem ser vistos como espaços que reforçam estas desigualdades, principalmente para mulheres que desejam exercer seus direitos como trabalhadoras e mães (HEWLLET, 2002; SCAVONE, 2001; BLAY, 1975).

A relação entre a participação feminina no mercado de trabalho e a maternidade se tornou objeto de investigação nas ciências sociais a partir da segunda metade do século vinte. É nesse momento que se evidencia a relação entre o aumento da participação da mulher no mercado de trabalho e o declínio da fecundidade nos países ocidentais. As análises desse fenômeno produziram e ainda produzem um intenso debate sobre as suas causas e consequências (BONNER, 2015; BILAC, 2014; CÁCERES-DELPIANO, 2011). Nesse sentido, tanto a sociologia quanto a economia vêm construindo um importante arcabouço teórico-metodológico para a compreensão dos impactos que essa relação produz na dinâmica populacional, colaborando diretamente para os avanços dos estudos sociológicos e demográficos nessa área. Assim sendo, o objetivo principal deste trabalho é examinar como mulheres em ocupações de nível superior conciliam trabalho fora do ambiente doméstico e a maternidade ao longo de suas vidas e carreiras. A hipótese principal sugere que determinadas características das ocupações das mulheres podem demandar diferentes estratégias em relação ao momento e à quantidade de filhos. As características de cada grupo ocupacional podem fazer com que as mulheres adéquem o seu regime reprodutivo às demandas profissionais. As ocupações com características mais modernas, competitivas e com possibilidades de carreira, como são as de nível superior, podem fazer com que as mulheres posterguem a maternidade, reduzindo com isso a sua parturição final. Ou seja, mulheres com objetivos e expectativas em relação à profissão tenderão não somente a ter um número menor de filhos, mas a tê-los em idades mais avançadas (HEWLLET, 2002; BREWSTER & RINDFUSS, 2000; KALWIJ, 2000; ELLISGSAETER & ROSEN, 1996; BECKER, 1981).

Este trabalho utiliza entrevistas em profundidade para possibilitar a reconstrução da história profissional e reprodutiva das mulheres trabalhadoras e entender os sentidos e significados dados no momento de suas escolhas sobre a maternidade e sua vida profissional. Foram realizadas vinte entrevistas com mulheres adultas, com 30 anos e mais de idade, em ocupações de nível superior, residentes em Belo Horizonte, no ano de 2011. A partir desses resultados preliminares, a principal contribuição deste trabalho é salientar aspectos institucionais e normativos que podem influenciar a relação entre o trabalho e a maternidade, que dificilmente são observados a partir de dados quantitativos.

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Cláudio Santiago Dias Jr. é Doutor em Demografia (UFMG) e Professor Adjunto do Departamento de Sociologia (UFMG).

Ana Paula Verona é PhD em Demografia (University of Texas at Austin) e Professora Adjunta do Departamento de Demografia (UFMG). Pesquisadora do Centro de Desenvolvimento
e Planejamento Regional (CEDEPLAR).

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