Natália Cindra e Tiago Magaldi
Resumo: O longo processo de desregulamentação do trabalho se apresenta de forma particularmente aguda entre comerciários inseridos na escala 6×1 e trabalhadores plataformizados, impactando diretamente a perspectiva de futuro dos jovens trabalhadores. Diante disso, o artigo compara o perfil e as mobilizações críticas dessas duas categorias, partindo de casos na cidade do Rio de Janeiro. Com forte perfil de juventude e inseridos em longas jornadas, a análise comparativa aponta para o comum nas críticas elaboradas – o desejo de reapropriação do próprio tempo – e para o diferente a reivindicação da redução da jornada, no caso dos comerciários, e a da porosidade, no dos entregadores.
Sumário: Introdução | Jovens, negros e precarizados | A luta pelo tempo e pela remuneração digna: o VAT e os Breques
| Considerações finais
Introdução
Não é segredo que enfrentamos, no Brasil, anos de “ofensiva neoliberal restauradora” (Marcelino e Galvão, 2020). Ainda que a eleição de Lula para um terceiro mandato em 2022 tenha significado uma desaceleração real da blitzkrieg neoliberal e reacionária representada por Bolsonaro e seu bloco, os tempos são claramente de contenção tática e recuo estratégico das forças progressistas: arredondam-se arestas de bandeiras históricas da esquerda, amplia-se ao limite o arco de alianças.
Essa ofensiva teve início ainda nos anos de 1990, não por acaso a década na qual o tema da precarização das relações de trabalho passou para o centro da pesquisa sociológica. Grande desafio para a imaginação sociológica brasileira: o instrumental analítico acumulado para investigar o padrão fordista não parecia dar conta das novas realidades (Ramalho, 2008). Algo semelhante parece estar ocorrendo no presente momento, e é urgente elaborar a respeito das recentes mudanças.
Desde então, o movimento que caracterizou a década de 1990 seguiu seu curso, culminando com a aprovação da Lei 13.467/2017, a chamada Reforma Trabalhista, no governo golpista de Michel Temer. Mas ele não se esgota nela: como demonstram os estudos de Sayonara Grillo e coautores (Artur, Grillo e Pessanha, 2023; Grillo e Carelli, 2021), seguimos em um contexto de “reforma trabalhista permanente”, com a degradação regular e sistemática do vínculo de trabalho formal.
Como era de se esperar, já começam a surgir reações. Mesmo em um contexto de hegemonia conservadora ou, talvez, justamente por isso, os resultados precarizantes da desregulamentação das relações de trabalho tem produzido movimentos sociais que podem significar embriões de um novo ciclo de luta dos trabalhadores. É preciso, no entanto, que tais movimentos sejam corretamente analisados nas suas possibilidades e limites, bem como – e é o que tentaremos aqui – nas causas específicas que os fizeram nascer.
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Natália Cindra é professora substituta do Departamento de Sociologia da UFRJ e Doutora em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da mesma instituição (PPGSA-UFRJ)
Tiago Magaldi é professor substituto do Departamento de Sociologia da UFRJ e pós-doutorando no Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da mesma instituição (PPGSA-UFRJ)

