Em 2016 nenhuma mulher foi premiada com um prêmio Nobel, em nenhuma de suas categorias. Os 11 premiados foram homens. No caso das disciplinas científicas, os números são escandalosos. Desde 1901, 97% dos ganhadores de prêmios Nobel de ciências foram homens. Só 18 mulheres entram no grupo de 590 prêmios Nobel científicos. Nesse longo período, os homens ganharam 99% dos Nobel de Física, 98% dos de Química e 94% dos de Medicina.
“É muito triste”, afirma Capitolina Díaz, professora de Sociologia da Universidade de Valência. “Existe uma discriminação às mulheres que é sistêmica, universal, que permeia toda a estrutura social e que nem sequer é contemplada como um problema”, afirma. Díaz foi presidenta da Associação de Mulheres Pesquisadores e Tecnólogas (AMIT), uma organização que no ano passado denunciou que na Espanha as mulheres recebem somente 7% dos prêmios científicos com premiação superior a 100.000 euros (350.000 reais). A quantia de cada Nobel supera os 800.000 euros (2,8 milhões de reais).
A socióloga espanhola frisa que a ausência de mulheres premiadas com o Nobel não se deve à falta de candidatas. A francesa Emmanuelle Charpentier e a norte-americana Jennifer Doudna estavam em todas as apostas do Nobel de Medicina pelo desenvolvimento da técnica de edição genômica CRISPR – a partir do trabalho do microbiologista espanhol Francis Mojica –, que causará uma revolução no tratamento de doenças. A química norte-americana Carolyn Bertozzi, da Universidade Stanford, também sonhava com o Nobel de Química por suas ferramentas para manipular processos no interior das células. A física dinamarquesa Lene Hau, da Universidade Harvard, também aparecia como possível ganhadora do Nobel de Física por ter conseguido reduzir a velocidade de um raio de luz até os 17 metros por segundo. E são somente quatro exemplos.
Capitolina Díaz acaba de apresentar ao Ministério de Economia e Competitividade uma proposta para que em todos os eventos e conferências científicas pagas com dinheiro público exista a paridade nos comitês organizadores e nos conferencistas. Nas disciplinas tradicionalmente mais masculinas, a presença das mulheres no palco seria “no mínimo” proporcional ao número de mulheres entre o público, de acordo com a proposta de Díaz.
O objetivo é acabar com imagens como a do júri dos prêmios Rey Jaime I deste ano, que dão 100.000 euros (350.000 reais) em cada categoria e organizados pela Generalitat Valenciana. Os 23 membros do júri eram homens. E não premiaram nenhuma mulher. A AMIT também criticou a ausência das mulheres nos prêmios Fronteras da Fundação BBVA, que concede a cada categoria 400.000 euros (1,4 milhão de reais). Desde 2008, 61 homens foram premiados e somente três mulheres, segundo denúncia da AMIT. Nenhuma mulher foi premiada nas três últimas edições.
Fonte: El País
Texto: Manuel Ansede
Data original da publicação: 14/10/2016