Greve geral na Itália desafia reforma trabalhista de Renzi

Dois importantes sindicatos da Itália convocaram greve geral na sexta-feira (12/12), em protesto à reforma trabalhista proposta pelo primeiro-ministro Matteo Renzi. Como ela prevê o relaxamento das restrições às demissões para as empresas, as centrais sindicais temem um aumento do desemprego.

A greve geral de oito horas de duração atinge o transporte, hospitais e a administração pública em toda a Itália. Dezenas de voos tiveram que ser cancelados ou remarcados. Estavam programadas mais de 50 manifestações em diversas regiões. Em Turim e Milão, manifestantes entraram em choque com a polícia, que efetuou diversas prisões. Segundo os sindicatos, mais de 40 mil cidadãos participaram dos protestos em Roma, e, no restante do país, muitos outros não compareceram ao trabalho.

Jovens são os mais afetados

O principal alvo da greve geral é o aspecto mais controverso da nova política de empregos do primeiro-ministro, aprovada pelo Senado no início do mês. Renzi defende que as mudanças simplificarão as contratações por parte das empresas italianas que enfrentam dificuldades.

Os sindicatos rebatem que as novas medidas apenas facilitarão as demissões. Além disso, com o desemprego entre jovens rondando os 45%, a carga das reformas e das medidas de austeridade estaria recaindo de forma injusta sobre os assalariados, sem contribuir de qualquer forma para o crescimento, argumentam as associações trabalhistas.

Na quinta-feira, durante um discurso a empresários italianos na Turquia, o premiê democrata de 39 anos ressaltou que respeita o direito dos sindicatos de promoverem greve geral, mas as manifestações não vão mudar o curso das reformas. Fausto Durante, diretor para Assuntos Europeus do maior sindicato da Itália, a Confederação Geral Italiana do Trabalho (CGIL), comentou à DW que “nesta reforma trabalhista, a mudança mais substancial é o cancelamento da proteção contra demissões injustas. Essa não é uma medida para criar novos empregos, é simplesmente para criar mais desemprego”.

Ele também rejeita o orçamento proposto pelo governo para 2015, que considera uma repetição destrutiva das medidas de austeridade impostas pela Comissão Europeia nos últimos seis anos. O sindicalista considera, assim como muitos outros analistas, que tais medidas fracassaram na tentativa de reverter a tendências à redução do poder aquisitivo, do crescimento econômico e das taxas de emprego.

FMI: ameaça da explosão social

Milhares de empresas fecham as portas todos os meses na Itália, e o medo do desemprego continua a aumentar. O Instituto Italiano de Estatísticas aponta que 17% (cerca de 10 milhões) dos italianos vivem em condições de pobreza relativa, enquanto 10% (6 milhões) vivem na pobreza absoluta, a maioria nas regiões do sul do país.

“Os jovens da Itália têm carregado o fardo dos empregos de alta rotatividade, e os mais idosos decidiram nunca mudar de trabalho, para não perder a segurança empregatícia”, descreve Elisabeta Addis, professora de economia da Universidade de Sassari, referindo-se ao que muitos no país chamam de “apartheid trabalhista”.

A situação chegou a chamar a atenção da diretora geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, a qual alertou, nesta semana, que a Itália pode estar se caminhando para uma explosão social, caso o problema não seja remediado.

Um problema europeu

Addis aponta que, justamente por tantos estarem excluídos dos empregos de tempo integral que os sindicatos tentam proteger, é um desperdício de energia se concentrar na reforma trabalhista como solução mágica para a recessão italiana.

Muito mais urgente, diz a professora, é a necessidade de lidar com a corrupção generalizada da Itália, sua posição enfraquecida no comércio internacional, a ineficiência da administração pública e o subdesenvolvimento da região sul. Para tal, o governo de Matteo Renzi precisa promover o intercâmbio com todos os protagonistas políticos e sociais tradicionais do país, algo que ainda não fez.

O sindicalista Fausto Durante concorda. “Renzi pensa que, como governante do país, ele não precisa de nenhum poder intermediário entre si e a população. Ele tem algo de populista, alguém que quer um relacionamento direto com as massas”, analisa.

“Renzi acha que os sindicatos, os atores sociais e as associações de cidadãos são uma má herança do século 20. Essa não é só uma atitude italiana: no nível europeu, estamos vivenciando esse cancelamento do que costumávamos denominar diálogo social. Esse tipo de abordagem traz tensão social e choques entre diferentes partes da sociedade. E isso é exatamente o que está acontecendo na Itália.”

Fonte: Deutsche Welle
Texto: Arne Lichtenberg
Data original da publicação: 12/12/2014

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