Globalização contra-hegemônica e “novo internacionalismo operário”

Ricardo Framil Filho

Fonte: Revista Ciências do Trabalho, São Paulo, n. 6, p. 1-19, jun. 2016.

Resumo: O advento da globalização deu novo fôlego à ideia de que o trabalho e o sindicalismo vivem crise insuperável. Por outro lado, pesquisadores críticos desafiam essa visão ao enfatizar as oportunidades que a globalização oferece para o ativismo internacional dos trabalhadores e postulam a emergência de um “novo internacionalismo operário”. Inspirados pelo resgate do trabalho do economista húngaro Karl Polanyi e pelo que viram como indicativos do surgimento de um “sindicalismo de movimento social”, deram origem ao que ficou conhecido como “Novos Estudos sobre Trabalho Global”. Essa tendência, no entanto, foi acusada de sofrer de otimismo exagerado. Ainda que sem respostas definitivas, as questões levantadas por esse debate devem motivar a pesquisa sobre o sindicalismo brasileiro, que assume protagonismo crescente na escala internacional.

Sumário: Globalização e trabalho | Globalização contra-hegemônica | Novo internacionalismo operário | A relevância do sindicalismo brasileiro | Referências bibliográficas

Nos últimos anos, foi crescente a publicação de trabalhos preocupados com as respostas dos trabalhadores aos efeitos da globalização. Em especial, a proposição de que estaria surgindo um “novo internacionalismo operário” gerou polêmica. Enquanto alguns enxergam a sua emergência como o principal elemento de renovação do sindicalismo e do movimento operário contemporâneos, críticos afirmam que muito do que se apresenta como novo internacionalismo não passa de “manobra discursiva”. Não é novidade, na discussão sobre a importância do ativismo internacional para a organização dos trabalhadores, a divisão entre “otimistas” e “céticos” ou “pessimistas”. Ramsay (1999), cujo trabalho é frequentemente citado por oferecer uma das poucas sínteses disponíveis sobre a história intelectual desse debate no período anterior, mostra que essa é a tônica da discussão há décadas. É inegável, no entanto, que a globalização traz novos elementos e recoloca a questão, tanto para pesquisadores quanto na prática. A questão inescapável é: as empresas se globalizaram. Não é hora de as organizações dos trabalhadores o fazerem? Mesmo entre aqueles que apresentam opinião pessimista sobre as possibilidades do movimento organizado dos trabalhadores no atual contexto econômico e político, é tentadora a ideia de que a organização na escala internacional é o caminho lógico:

Se os trabalhadores conquistarão direitos coletivos nessa nova ordem mundial, eles terão de inventar novas estratégias na escala do capital internacional. Uma vez que (a) os direitos emergem da luta organizada e (b) a luta atual ainda coloca o trabalho contra o capital, apenas a ação coletiva em escala internacional tem perspectiva de proporcionar ganhos para o trabalho ou mesmo de evitar perdas. (TILLY, 1995, p. 21).

Apesar disso, o debate teórico sobre a questão ainda esbarra na escassez de material empírico. Crítica recorrente à literatura “otimista” sobre o assunto é que ela tende a generalizar conclusões extraídas de poucos exemplos bem-sucedidos, ou seja, a essencializar como “embrionário” aquilo que pode ser uma exceção baseada em condições extraordinárias. De outro lado, aqueles que enxergam no ativismo internacional dos trabalhadores uma resposta necessária à globalização apontam que o estudo das experiências que atingem bons resultados é essencial para compreender as possibilidades abertas ao movimento operário nos dias de hoje. Não é tarefa fácil, portanto, tecer análises de conjunto ou apresentar conclusões definitivas. Mas a multiplicação recente de experiências de articulação internacional de trabalhadores, especialmente por intermédio do sindicalismo internacional, tem feito com que a produção intelectual sobre o assunto seja cada vez maior. Além disso, as experiências em desenvolvimento são diversas e nem sempre se encaixam nos esquemas teóricos disponíveis, o que possibilita análises mais sofisticadas e menos afeitas a polarizações extremas. O objetivo deste texto é discutir o estado atual desse debate a partir de clássicos recentes sobre o assunto e, ao fim, apresentar breve comentário sobre a importância do Brasil nesse cenário. A contribuição brasileira ao internacionalismo operário no contexto da globalização ainda é tema pouco explorado.

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Ricardo Framil Filho. Universidade de São Paulo.

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