Estratégias de desenvolvimento industrial e dinâmicas territoriais de contestação social e confronto político

José Ricardo Ramalho
Rodrigo Salles Pereira dos Santos
Raphael Jonathas da Costa Lima

Fonte: Sociologia & Antropologia, Rio de Janeiro, v. 3, n. 5, p. 175-200, jan./jun. 2013.

Resumo: O artigo discute o conflito socioambiental estabelecido na interação entre o desenvolvimento de estratégias industriais em rede, através da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), e formas emergentes de contestação social e confronto político nas localidades siderúrgicas e de extração mineral de Volta Redonda (RJ) e Congonhas (MG). O argumento central enfatiza a importância dessas formas de enraizamento social como condicionantes da ação econômica, considerando principalmente a natureza inovadora da integração de questões do trabalho e do meio ambiente nos territórios pesquisados.

Sumário: Estratégias corporativas, territórios e contestação social | Mercado mínero-siderúrgico e novas estratégias corporativas | A presença territorial da empresa – Volta Redonda e Congonhas | Contestação e confronto às estratégias empresariais | Conclusão | Notas | Referências bibliográficas

A lógica das atividades produtivas organizadas em redes de caráter global está, em geral, associada às dinâmicas de um mercado capitalista em busca permanente de novas formas de acumulação. Nessa direção apontam as análises que identificam como resultado desse processo a prevalência dos interesses das empresas independentemente do lugar onde a produção se realiza. A proposta deste texto é questionar esse tipo de interpretação e, através da descrição e exame das ações empresariais de uma rede de produção minero-siderúrgica centralizada na Companhia Siderúrgica Nacional S. A. (CSN), e de seus efeitos sobre os municípios de Volta Redonda (RJ) e Congonhas (MG), realçar uma perspectiva teórica que reconhece a capacidade de agência de determinados grupos sociais (principalmente sindicatos de trabalhadores, associações de moradores, organizações ambientalistas, igreja, entre outros), para mudar relações de poder e para regular o comportamento empresarial. Os territórios acionados no texto serão considerados a partir da noção exploratória de “arena” (De Sardan, 2005: 185); e os distintos repertórios de ação coletiva de confronto político (Tilly & Tarrow, 2007; 2008), articulados nas localidades selecionadas, serão analisados de modo a revelar como mecanismos de resistência e defesa da sociedade estão presentes e acabam interferindo na “captura de valor” produzido nesse elo da rede de produção. Nesse sentido, vamos utilizar a proposta teórica construída em torno da expressão “redes globais de produção” (Henderson et al., 2011; Santos, 2011) para sustentar a opção de atribuir força analítica ao papel dos territórios, considerando suas especificidades e sua influência sobre as estratégias corporativas em redes desintegradas geograficamente.

Pretendemos discutir o modo como essa empresa específica, a CSN, reestrutura sua estratégia corporativa a partir do contexto da crise recente do capitalismo em 2008, e interfere diretamente na vida social de Volta Redonda e Congonhas, com ônus em termos de emprego, relações trabalhistas e condições ambientais. E problematizar as reações e articulações locais de contestação social (Hommel & Godard, 2005) às intenções da empresa, ao criar condições para novas alianças entre diferentes agentes sociais com vistas a enfrentar as ameaças de degradação da vida e dos bens de uso comum.

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José Ricardo Ramalho é professor titular do Departamento de Sociologia e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Atua principalmente na área sociologia do trabalho, desenvolvendo pesquisas, entre outros temas, sobre relações de trabalho na indústria; trabalho, emprego e desenvolvimento econômico regional e local. Recentemente coorganizou a coletânea Desenvolvimento, trabalho e cidadania: Baixada e Sul fluminense, com Alexandre Fortes (2012).

Rodrigo Salles Pereira dos Santos é professor adjunto da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e faz parte do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social (PPGSS) dessa instituição. Doutor em Ciências Humanas – Sociologia, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), atua na área de sociologia econômica e do desenvolvimento, pesquisando os seguintes temas: desenvolvimento econômico e regional, redes de produção globais, mineração e indústria siderúrgica. É autor, entre outros, de Redes de Produção Globais (RPGs). Contribuições conceituais para a pesquisa em ciências sociais (2011).

Raphael Jonathas da Costa Lima é professor adjunto da Universidade Federal Fluminense (UFF), faz parte do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Ambiental (PGTA) e do Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA) da mesma instituição. Doutor em Ciências Humanas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), desenvolve pesquisa sobre os seguintes temas: movimentos sociais, sindicato e política, desenvolvimento regional, trabalho, siderurgia e indústria automobilística. É autor, entre outros, Estratégias integradas de regeneração em regiões industriais: uma aproximação com a conjuntura pós-década de 1990 no Sul Fluminense (2012).

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