Do esgotamento revolucionário à liberalização: o movimento sindical face às privatizações em Moçambique na década de 1990

Fernando Bessa Ribeiro

Fonte: Caderno CRH, Salvador, v. 28, n. 74, p. 369-382, maio/ago. 2015.

Resumo: O artigo tem como objetivo a análise da posição do movimento sindical moçambicano face às privatizações ocorridas nesse país da África austral na década de 1990. Desenvolvendo um argumento fortemente escorado na história, a compreensão da incapacidade do movimento sindical em se opor de forma eficaz a esse processo tem de considerar o seu trajeto em Moçambique desde as suas origens, pós-Segunda Guerra Mundial, e o do país, nomeadamente pós-independência, marcado pela guerra civil e a derrota do projeto revolucionário. Os dados foram recolhidos através de entrevistas em profundidade a dirigentes sindicais e responsáveis políticos e consulta de fontes documentais em arquivos moçambicanos. Como principal conclusão, indica-se que o fracasso do movimento sindical, na sua luta contra as privatizações, deveu-se à articulação de diversas causas, com destaque para as que se relacionam com sua escassa autonomia em relação à Frelimo, o “partido-Estado”.

Sumário: Introdução | O fracasso da experiência revolucionária | A liberalização em marcha | A resposta sindical às privatizações | Considerações finais | Referências

Introdução

Ganha a independência em 1975, o Estado moçambicano procurou implementar um programa político radical, visando à alteração profunda das estruturas sociais, econômicas e simbólicas do país. Colocado na “linha da frente” da luta contra o apartheid, atrás do qual se camuflavam alguns dos principais interesses do imperialismo norte-americano – mormente os que se relacionavam com a contenção daquilo que o regime racista designava por “ameaça comunista” na África Austral –, Moçambique travou uma longa e dolorosa guerra civil que deixou o país exausto e acabaria por liquidar o próprio processo revolucionário, conquanto as suas experiências e aspectos mais positivos tenham produzido efeitos resilientes para a imaginação de novos projetos emancipatórios.

Abrindo com a discussão das causas desse colapso, o texto reflete acerca da posição do movimento sindical face às privatizações, decorridas já duas décadas desde o seu arranque. Se é certo que o foco da discussão se centra na década de 1990, durante a qual ocorre a larga maioria das privatizações, em especial do setor industrial, não se obnubila as décadas anteriores, uma vez que elas são cruciais para se compreenderem as razões fundas das posições assumidas pelo movimento sindical ao longo desse processo. Daí que parte do texto seja ocupada com a apresentação crítica do trajeto do sindicalismo em Moçambique, desde a sua criação ainda antes da Segunda Guerra Mundial e em pleno período de consolidação da presença colonial portuguesa em África.

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Fernando Bessa Ribeiro é Doutor em Ciências Sociais. Professor na Escola de Ciências Humanas e Sociais da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Pesquisador no Centro de Investigação em Ciências Sociais da Universidade do Minho. As dinâmicas do capitalismo e a mudança social em Moçambique constituem um dos seus principais interesses de investigação.

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