Na terça-feira (03/01), a partir das 19 horas, Clemente Ganz Lúcio, Sociólogo, Coordenador do GT Trabalho na equipe de transição do Presidente Lula e Ex–Diretor Técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Diesse) de 2004 até 2020, deu entrevista para o Jornal O Coletivo.
Segundo o entrevistado, a transição teve o objetivo de gerar e organizar o trabalho no governo para que os Ministros pudessem ter um parâmetro da pasta. “Analisamos que ontem, por exemplo, tinha um contrato a ser assinado que deveria ser prorrogado e por isso dissemos para o novo Ministro do Trabalho, que era preciso priorizar. Essa foi a tarefa da transição. Também sugerimos a divisão do Ministério do Trabalho e da Previdência. Estou inclusive hoje em Brasília apresentando para os Ministros o trabalho que foi feito em nosso GT para gerarmos uma composição de organização com capacidade para execução. Encontramos Ministérios fragilizados. Na educação, por exemplo, não tinham pensado em comprar livros. Isso foi visto pela equipe de transição”.
Joel Oliveira, Presidente do Sindicato dos Bancários da Região de Cruz Alta que também participou da entrevista, comentou que o Diesse é muito importante para abastecer os trabalhadores bancários. Também disse que possuem boas expectativas para contribuir com o novo governo. “Fiquei feliz com as duas mulheres indicadas para o Banco do Brasil e Caixa Federal. Rita Serrano sempre lutou pelos interesses dos bancários. Com certeza ela vai atender as demandas dos trabalhadores como a questão do concurso público que vai ajudar a preencher a falta de trabalhadores nos bancos. Temos que rever a reforma trabalhista e previdenciária. Estamos animados com o novo governo”.
Sobre a declaração do Ministro Carlos Lupi em relação a uma possível revisão na reforma da previdência, Clemente argumentou que é preciso ter muito cuidado para atender várias áreas, a situação organizativa do Estado brasileiro não é a ideal. “O Governo deverá saber utilizar os escassos recursos para atender a urgente questão social e da saúde da população. Essas importâncias devem ser trabalhadas dentro das pastas. Também deve modernizar as regras da previdência. Fazer um plano organizado de trabalho é necessário. Definir prioridades é importante para não mandar tudo de uma vez para o Congresso. Esse é um trabalho que o Governo deverá fazer, pois não tem como fazer tudo de uma vez só; tudo requer força política, recursos e capacidade organizativa”.
Em relação a declaração de Luis Marinho, que pretende regular os aplicativos, Clemente disse que, seja qual a forma de trabalho, é necessário que o governo de segurança social e previdenciária para todos os trabalhadores(as). “É necessário criar proteção para os autônomos e trabalhadores de aplicativos. Como regular um profissional que trabalha para 10 empresas entregando pizzas? Esse é o desafio. Não é por esse motivo que não deve ser regulado. Temos uma agenda enorme para buscar implementar. Os bancários, por exemplo, se organizaram durante 20 ou 30 anos para construir uma convenção coletiva que hoje eles possuem. Os trabalhadores precisam ir se organizando, sindicalizando-se. Temos que sair dos 4 anos desse governo no mínimo com mais proteção do que se tem hoje”.
Joel Oliveira, falou que a luta dos bancários é centenária. “Nunca perdemos o que conquistamos devido à luta. Temos uma ideia de fortalecer as bases junto aos Presidentes dos Bairros. É momento de reconstrução do Brasil. Os terceirizados dos bancos também precisam ter direitos. Enfim, o novo governo e os sindicatos possuem muito trabalho pela frente. Mas, para isso, é preciso ouvir as bases sobre temas importantes, por exemplo, qual é o papel dos bancos para a sociedade?
Clemente, que já foi diretor técnico do Diesse, finalizou explicando sobre os dados estatísticos que tratam sobre a questão do desemprego. “As estatísticas buscam trazer uma fotografia de uma realidade. 50 milhões de trabalhadores possuem vínculo de trabalho, mas existem outros 50 milhões que não são assalariados ou são, porém sem carteira. Desse conjunto, 1/3 estão fora desse mundo do trabalho. Ainda tem 5 milhões que desistiram de encontrar emprego. Também tem outros milhões que possuem trabalhos precários fazendo “bico”. Temos uma economia que não está gerando os postos de trabalho. Caiu a taxa de desemprego, mas com postos de trabalhos muito ruins. Jovens formados que nem trabalham e nem estudam ou que estão fora da sua área de atuação viram MEI. Essa fotografia do mundo real é perversa. Não queremos uma economia que gere isso. Buscamos uma economia que gere renda e tenha compromisso sustentável. Uma outra economia é possível, que oportunize bons empregos. Esperamos com esperança que o novo governo consiga alcançar essa economia para um outro Brasil”.
Fonte: Jornal O Coletivo
Data original da publicação: 04/01/2023