O sistema financeiro nacional fechou 3.600 postos de trabalho nos primeiros sete meses de 2014, atuando na contramão da economia brasileira, que gerou 632.224 novos empregos formais no mesmo período. O desemprego no setor seria ainda mais acentuado não fosse a atuação da Caixa Econômica Federal, a única grande instituição financeira a criar vagas (1.595).
Os dados são da Pesquisa de Emprego Bancário (PEB) divulgada na sexta-feira (22/08) pela Contraf-CUT, que faz o estudo em parceria com o Dieese, com base nos números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
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No total, 17 estados apresentaram saldos negativos de emprego nos primeiros sete meses do ano. As maiores reduções ocorreram em São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro, com 1.524, 621, 480 e 463 cortes, respectivamente. O estado com maior saldo positivo foi o Pará, com geração de 208 novas vagas.
“Apesar dos lucros gigantescos, os bancos brasileiros, principalmente os privados, seguem eliminando postos de trabalho em 2014, a exemplo dos últimos meses de 2013, o que é injustificável. Somente no ano passado os seis maiores bancos (BB, Itaú, Bradesco, Caixa, Santander e HSBC) lucraram R$ 56,7 bilhões”, afirma Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT.
Para ele, “os bancos que estão fechando postos de trabalho prejudicam os bancários, pioram o atendimento dos clientes e da população e não contribuem para o crescimento econômico e social do país com emprego e distribuição de renda”.
“Isso também é um sinal vermelho para a classe trabalhadora, uma vez que essa é exatamente a receita para o país apregoada por economistas de bancos que estão coordenando programas de governo de alguns candidatos à Presidência da República”, alerta Cordeiro.
Rotatividade achata salários dos bancários
De acordo com o levantamento Contraf-CUT/Dieese, além do corte de vagas, a rotatividade continuou alta no período. Os bancos brasileiros contrataram 20.075 funcionários e desligaram 23.675.
A pesquisa mostra também que o salário médio dos admitidos pelos bancos nos primeiros sete meses do ano foi de R$ 3.303,55 contra o salário médio de R$ 5.216,86 dos desligados. Assim, os trabalhadores que entraram nos bancos receberam valor médio equivalente a 63,3% da remuneração dos que saíram.
“Essa diferença prova que os bancos privados continuam praticando a rotatividade, um mecanismo cruel utilizado para reduzir a massa salarial da categoria e aumentar ainda mais os lucros”, destaca o presidente da Contraf-CUT. “Nos últimos dez anos, os bancários conquistaram aumentos reais consecutivos, mas esses ganhos foram corroídos pela rotatividade, freando o crescimento da renda da categoria”, ressalta.
Para Cordeiro, “os números da nova pesquisa reforçam a luta dos bancários contra as demissões e pelo fim da rotatividade, por mais contratações e contra os projetos de terceirização, como forma de proteger e ampliar o emprego da categoria e da classe trabalhadora”. Não é à toa que “o emprego está entre as principais demandas da Campanha Nacional dos Bancários 2014 e estará em pauta na rodada de negociações com a Fenaban que ocorrerá nos dias 3 e 4 de setembro”.
Desigualdade entre homens e mulheres
A pesquisa mostra também que as mulheres, ainda que representem metade da categoria, permanecem sendo discriminadas pelos bancos na sua remuneração, ganhando menos do que os homens quando são contratadas. Essa desigualdade segue ao longo da carreira, pois a remuneração das mulheres é bem inferior à dos homens no momento em que são desligadas dos seus postos de trabalho.
Enquanto a média dos salários dos homens na admissão foi de R$ 3.756,96 nos primeiros sete meses do ano, a remuneração das mulheres ficou em R$ 2.829,77, valor que representa 75,3% da remuneração de contratação dos homens.
Já a média dos salários dos homens no desligamento foi de R$ 6.000,16 no período, enquanto a remuneração das mulheres foi de R$ 4.386,33. Isso significa que o salário médio das mulheres no desligamento equivale a 73,1% da remuneração dos homens.
“Essa absurda discriminação é totalmente inaceitável e reforça ainda mais a luta da categoria por igualdade de oportunidades na contratação, na remuneração e na ascensão profissional”, enfatiza Cordeiro.
Maior concentração de renda nos bancos
O presidente da Contraf-CUT salienta ainda que “a pesquisa fortalece ainda a mobilização dos bancários por distribuição de renda”. Enquanto no Brasil, os 10% mais ricos no país, segundo estudo do Dieese com base no Censo de 2010, têm renda média mensal 39 vezes maior que a dos 10% mais pobres, no sistema financeiro a concentração de renda é ainda maior.
No Itaú, cada membro do Conselho de Administração recebeu, em média, R$ 15, 5 milhões em 2013, o que representa 318,5 vezes o que ganhou o bancário do piso salarial. No Santander, cada diretor embolsou, em média, R$ 7,7 milhões no mesmo período, o que significa 158,2 vezes o salário do caixa. E no Bradesco, que pagou, em média, R$ 13 milhões no ano para cada diretor, a diferença para o salário do caixa foi de 270 vezes.
Desta forma, para ganhar a remuneração mensal de um desses executivos, o caixa do Itaú tem que trabalhar 26,5 anos, o caixa do Santander 13 anos e o do Bradesco 22,5 anos.
“Essa imensa distância, que separa os ganhos dos altos executivos e os salários dos bancários, atenta contra a justiça social e a dignidade dos trabalhadores, bem como contribui para a vergonhosa posição do Brasil entre os 10 países mais desiguais do mundo, o que precisa mudar”, conclui Cordeiro.
Fonte: Contraf-CUT, com Dieese
Data original da publicação: 22/08/2014