Rodrigo Straessli Pinto Franklin
Pollyanna Paganoto Moura
Fonte: Revista da Sociedade Brasileira de Economia Política, Niterói, n. 40, p. 12-35, fev./maio 2015.
Resumo: O artigo analisa as possibilidades e limites de superação da alienação do trabalho presentes na expansão das cooperativas de produção no seio do modo de produção capitalista. Primeiramente, examina a categoria de alienação presente nas elaborações do jovem Marx, atualizando-a com relação ao conceito do valor-trabalho, introduzido em suas obras posteriores. Em seguida, estabelece uma compreensão sobre o que se pode entender por trabalho emancipado, oposto à alienação. Por fim, identifica os pontos nos quais o cooperativismo colabora para esse processo de emancipação e as limitações que pode possuir caso seja adotado como estratégia isolada para a superação do capitalismo.
Sumário: Introdução | 1. A teoria da alienação em Marx | 1.1. Alienação do trabalho revisitada | 1.1.1. Alienação do indivíduo | 1.1.2. Alienação da natureza | 1.1.3. Alienação da condição humana | 1.1.4. Alienação das relações sociais | 1.2. A emancipação do trabalho | 2. A utopia cooperativista | Conclusão | Bibliografia
Introdução
O conflito de classes é o motor do desenvolvimento histórico da sociedade humana, que segue um percurso dialético de sintetização entre diversas teses e suas antíteses. As condições materiais do período histórico precedente são as bases em que se darão as transformações históricas atuais, que por sua vez determinarão as condições materiais das fases vindouras.
É dessa forma que o capitalismo surgiu como uma síntese de um momento histórico anterior. Revoluções burguesas, acumulação primitiva de capital, migração de camponeses para as cidades, revolução industrial, enfim, todos esses processos, criados e/ou direcionados pelos choques de interesses, desembocaram em um novo modelo de acumulação que, ao mesmo tempo em que desnudou as relações de exploração, ao retirar destas as institucionalidades políticas e religiosas que lhe davam forma, as dissimulou por meio de relações monetárias, alienando as relações sociais ao transformá-las em meras relações materiais entre mercadorias.
E, assim, o próprio capitalismo deu início ao movimento que geraria sua antítese. A classe trabalhadora, ao ser pressionada pela exploração desumana do capitalismo – uma exploração, ao mesmo tempo, aberta e dissimulada –, insurgiu contra seus opressores, em uma tentativa de alcançar uma sociedade cuja base fosse o trabalho livre e emancipado. Com isso nasceu o novo conflito, ou melhor, a nova forma como se expressa o antigo conflito entre classes antagônicas, que definirá a próxima síntese da sociedade humana.
Muitas ideias, curiosamente a maioria proveniente de teóricos burgueses, surgiram com o intuito de explicar o que seria e como se daria essa sociedade utópica. Neste contexto, surgiram os autores que mais tarde foram denominados de “socialistas utópicos”. Estes tinham como objetivo a implantação, com o apoio e a iniciativa da burguesia, de uma sociedade justa e igualitária, através da criação de núcleos de produção geridos pelos próprios trabalhadores, que seriam os proprietários dos meios de produção. A evolução das ideias destes autores resultou no surgimento do cooperativismo, um movimento baseado na associação livre de trabalhadores, com o intuito de, além de garantir a sobrevivência dos associados, buscar formas alternativas ao capitalismo desumano de promover a produção, circulação e distribuição de mercadorias. As cooperativas, como são denominadas essas associações autogestionárias de trabalhadores, consolidaram-se em uma contundente inserção anticapitalista dentro do próprio capitalismo, baseadas em uma série de princípios contrários à lógica de acumulação do capital.
No decorrer do desenvolvimento do capitalismo, o movimento cooperativista ganhou forças especialmente em momentos de prolongada depressão econômica, quando as rédeas da exploração estão sempre mais apertadas. Com a adesão de novas pessoas e novas ideias, o cooperativismo acabou incorporando outros objetivos, como a luta contra o desemprego e por melhores condições de trabalho, e deixou de representar, em certa medida, um foco de transformação revolucionária da sociedade.
Rodrigo Straessli Pinto Franklin é Doutorando e Mestre em Economia do Desenvolvimento pelo Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – PPGE/UFRGS. Bolsista do CNPq – Brasil.
Pollyanna Paganoto Moura é Mestranda em Teoria Econômica do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Espírito Santo – PPGEco/UFES. Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo – FAPES.