Os Uber Files (ou Arquivos da Uber) são uma investigação global a partir de 124 mil documentos confidenciais da Uber, entre 2013 e 2017, que foram vazados para o jornal The Guardian, que está trabalhando com um consórcio internacional de jornalistas.
Os dados revelam como a empresa desrespeitou a lei, enganou a polícia, explorou a violência contra motoristas e pressionou secretamente governos em todo o mundo. Também financiou acadêmicos e realizou lobby. Estratégias de relações públicas e produção de desinformação.
O denunciante foi Mark MacGann, ex-diretor de políticas públicas da Uber, focado em Europa, Oriente Médio e África. O setor de políticas públicas é um padrão nas principais plataformas de trabalho ao redor do mundo.
Leia algumas matérias:
Uber quebrou leis, enganou a polícia e pressionou secretamente governos, revela vazamento (The Guardian)
O denunciante do Uber: estou expondo um sistema que vendia uma mentira às pessoas (The Guardian)
Uber pagou somas de seis dígitos a acadêmicos por pesquisas para alimentar a mídia (The Guardian)
‘Violência garante sucesso’: como Uber explorou protestos de motoristas (The Guardian)
O que são os arquivos da Uber? Um guia para as táticas de expansão implacáveis da empresa de transporte (The Guardian)
O projeto Fairwork afirmou que os Arquivos da Uber não são uma surpresa e pede que os governos façam mais para proteger os trabalhadores por plataformas. Leia um trecho da nota:
“Os Arquivos da Uber divulgados ontem revelam como o sucesso atual da Uber se baseia em práticas antiéticas e acesso político para dobrar a legislação existente, colocando em risco a segurança e o bem-estar de seus motoristas. Além dos EUA e da Europa, a Uber usou essas práticas questionáveis para se expandir no Sul Global e continua fazendo lobby por regulações trabalhistas mais fracas. Na Índia, em Bangladesh e no Egito, por exemplo, nossa pesquisa encontrou evidências de trabalhadores acumulando dívidas significativas com a Uber, prendendo-os ao serviço da plataforma.
A pesquisa do Fairwork, da Universidade de Oxford, que avalia as condições de trabalho na economia de plataformas, tem colocado a Uber sistematicamente entre as pontuações mais baixas em países de Europa, África, América Latina e Ásia. Mesmo no Reino Unido, onde seus motoristas são empregados da plataforma, a Uber não conseguiu provar que oferece remuneração, condições e gerenciamento justos.
Se a Uber “não pedir desculpas pelo comportamento passado”, o Fairwork pede a intervenção dos governos para garantir que as plataformas façam mais para melhorar as condições de trabalho de seus trabalhadores hoje. […] Os Arquivos da Uber mostram que empresas poderosas são capazes de iludir as autoridades sob o atual sistema de fiscalização. Precisamos de sindicatos e instituições trabalhistas mais fortes, juntamente com governos que coloquem as questões trabalhistas em primeiro lugar”.
Na Jacobin, Paris Marx afirma que o vazamento expõe a guerra mundial contra os trabalhadores. Leia um trecho:
“Quando Dara Khosrowshahi virou CEO em agosto de 2017, a empresa colocou o problema como uma má “cultura” corporativa, e prometeu que Khosrowshahi resolveria a questão. Mas enquanto o tratamento dado a mulheres e outros grupos marginalizados era um problema na sede da empresa, a podridão estava no próprio cerne do modelo de negócios – algo que Khosrowshahi não podia (e nem iria) mudar.
A campanha mais importante de Khosrowshahi desde que assumiu o controle do Uber não foi a de resolver a cultura machista da empresa, mas a de reverter os direitos dos trabalhadores da Califórnia. Em setembro de 2019, o estado aprovou a Resolução Estadual 5, que teria forçado empresas de bicos como a Uber a categorizar os trabalhadores como empregados em vez de autônomos. Porém, as empresas se uniram e gastaram centenas de milhões de dólares para induzir o público a votar em uma medida chamada Projeto 22 que, elas asseguravam, ser para melhorar as condições de trabalho, mas que na realidade fez exatamente o oposto ao negar-lhes o estatuto de funcionários.
Os “Arquivos Uber” são menos sobre a cultura corporativa da Uber e mais sobre a maneira como a empresa se consolidou em cidades ao redor do mundo através da busca implacável por contatos políticos e leis favoráveis a praticamente qualquer custo. Apesar das alegações do time de relações públicas da Uber de que a empresa mudou desde o período dos documentos vazados, a perseverança na campanha por leis que mantenham a classificação errônea de seus trabalhadores prova o inverso”.
Em texto publicado em maio no livro Digital Platform Regulation, Pawel Popie lembra que as plataformas são agentes políticos e que buscam interferir em políticas públicas, inclusive com estratégias de comunicação e relações públicas muito bem pensadas e desenhadas. Vale a pena ler o capítulo Digital Platforms as Policy Actors.
Leia também dossiê sobre golpes, fraudes e fakes na economia de plataformas, na revista New Media & Society.
Fonte: Digilabour
Data original da publicação: 15/07/2022