No contexto da greve geral convocada pela CGT, quase meio milhão de pessoas participaram, na terça-feira (13/09), em mobilizações por toda a França. Macron quer “flexibilizar o mercado de trabalho”, respondendo aos anseios do patronato: criar emprego mais barato e descartável
A greve geral, convocada pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), com o apoio de outras forças sindicais, teve bastante impacto na administração pública e também se fez sentir nos setores dos transportes e da energia. Ao longo do dia, houve cerca de 200 manifestações em todo o território francês, nas quais participaram mais de 400 mil pessoas, de acordo com a CGT.
“Foi um êxito, uma grande demonstração do descontentamento”, disse o secretário-geral da CGT, Philippe Martínez, que, participando na manifestação de Paris, pediu à população que manifeste a sua oposição a uma medida que responde aos interesses do capital e das grandes empresas, segundo informações da Prensa Latina.
Desde o início da manhã, houve mobilizações de protesto contra a Lei do Trabalho em cidades como Marselha, Bordéus e Toulouse, que contaram com a participação de trabalhadores dos setores público e privado, de aposentados até estudantes. Em Paris, mais de 60 mil pessoas mobilizaram-se entre a Praça da Bastilha e Praça de Itália, segundo a CGT.
“Não podíamos deixar de estar aqui; viemos em massa porque não estamos dispostos a permitir que dêem cabo dos nossos direitos. O Código do Trabalho existe precisamente para proteger os nossos direitos e agora o governo quer destruí-lo», disse Jean-Marc à Prensa Latina, um manifestante que distribuía folhetos entre a multidão.
Justiça social e progresso
Em comunicado, a CGT afirmou que “com esta jornada de luta, os trabalhadores reafirmaram a exigência de um direito trabalhista que inclua justiça social e progresso”, repudiando medidas que “jamais erradicaram o desemprego e a precariedade”.
A greve e as fortes mobilizações de ontem são sinônimo da “urgência de mais justiça social” e de “rejeição da exploração, por via do reforço dos direitos e das garantias coletivas”, da “melhoria das condições de trabalho e de verdadeiros aumentos dos salários”, defende a CGT, que apela à participação na greve convocada para dia 21, véspera da aprovação da reforma de Macron – por decreto e com aplicação imediata.
Já hoje, a CGT e a Force Ouvrière (FO), que não aderiu à jornada de luta de ontem, tal como a CFDT, anunciaram uma greve nos transportes, por tempo ilimitado, a partir de dia 25.
Por seu lado, o movimento França Insubmissa agendou uma mobilização de protesto para dia 23. Jean-Luc Mélenchon, ex-candidato presidencial e líder desta força política, participou na manifestação que ontem teve lugar em Marselha, onde afirmou que “Macron precisa de entender que este país não quer ser liberal. Isto é a França, não o Reino Unido”.
Preguiçosos, cínicos, extremistas
Emmanuel Macron, que passou o dia de ontem nas colonias francesas das Caraíbas atingidas pelo furacão Irma, já deu a entender que não vai voltar atrás: “Estou determinado e não vou ceder. Nem aos preguiçosos, nem aos cínicos, nem aos extremistas”, disse recentemente numa viagem a Atenas.
Também o primeiro-ministro, Edouard Philippe, mostrou a mesma disposição sobre as reformas trabalhistas, que são vistas com bons olhos pela Alemanha de Merkel e entendidas como um primeiro passo, na agenda de Macron, com vista a uma revisão mais profunda do modelo social em França.
Com a reforma agora em causa, o presidente francês afirma querer travar o desemprego no país (acima de 9%), reforçando o poder das empresas nas negociações sobre condições de trabalho e dando-lhes maior flexibilidade nas contratações e nos despedimentos, entre outra medidas.
Isto, num contexto em que o patronato há muito se queixa dos direitos dos trabalhadores consagrados no Código do Trabalho como “um bloqueio ao investimento” e “à criação de emprego”. Ou seja, mais barato e precário.
Fonte: Vermelho/Prensa Latina/Abril
Data original da publicação: 13/09/2017