Ações tardias, o PIB da pandemia e o cenário pessimista de 2021

Fotografia: Dolores Ochoa

A bibliografia internacional sobre o impacto econômico da pandemia indica que o distanciamento social moderado e o distanciamento voluntário, como ocorrem no Brasil, podem ser mais prejudiciais à economia do que o lockdown, além de menos eficazes contra o vírus.

Pedro Paulo Zahluth Bastos, Gabriel Petrini e Lorena Salces Dourado

Fonte: Brasil Debate
Data original da publicação: 13/04/2021

O PIB do Brasil em 2020 reforça o consenso científico que beira a unanimidade: é a pandemia que deprime a economia, e não as iniciativas de saúde pública capazes de controlá-la. A contração da economia e a mobilidade voluntária precederam ações de distanciamento social estritas, que chegaram atrasadas para controlar os vários picos da pandemia e, assim, criar condições para recuperação econômica sustentada.

A bibliografia internacional sobre o impacto econômico da pandemia indica que ações de distanciamento social moderadas têm grande impacto econômico negativo que reforça o efeito do distanciamento voluntário, mas não são eficientes para reduzir a taxa de crescimento das infecções. Já ações de distanciamento social estritas conseguem, sim, reduzir as infecções, mas têm impacto econômico negativo pequeno na margem, pois a maior parte do impacto já tinha sido produzida pelo distanciamento voluntário e pela ação de distanciamento social moderada.

A conclusão é óbvia: ao invés de ficar parado torcendo para que a economia não despenque – pois ela vai despencar mesmo sem lockdowns rigorosos -, é melhor decretar lockdown rigoroso o mais cedo possível, acompanhando-o de ações para evitar novos surtos (testagem, rastreio de contatos e isolamento seletivo). Assim, a redução brusca das infecções pode criar condições epidemiológicas para uma recuperação econômica sustentada, pois enquanto houver risco de infecção haverá distanciamento voluntário. Em médio prazo, portanto, não há conflito entre atividade econômica e controle da pandemia.

A economia brasileira confirma o padrão internacional. Estimamos o distanciamento social voluntário avaliando dados de mobilidade nos estados brasileiros e comparando-os com alterações nas ações de distanciamento social. Em muitos estados há sincronia quase perfeita entre curvas de mobilidade e de número de casos independentemente de mudanças significativas em ações de distanciamento, o que se explica pelo distanciamento voluntário.

Em razão do distanciamento voluntário, a recuperação econômica iniciada no terceiro trimestre desacelerou no quarto antes mesmo da interrupção do auxílio emergencial. A pandemia, tornando-se endemia, limitou a retomada da demanda e do emprego em serviços no último trimestre em razão dos riscos de transmissão, a despeito do relaxamento das ações de distanciamento social.

Logo, tanto o distanciamento social quanto as políticas de defesa da renda foram mitigadas ou suspendidas cedo demais, e não foram acompanhadas nem sucedidas por ações para evitar novos surtos (testagem, rastreio de contatos e isolamento seletivo) por falta de coordenação nacional.

Como esperado, o recrudescimento da pandemia em 2021 foi novamente acompanhado da piora dos dados de mobilidade e dos indicadores econômicos. O indicador da OCDE para a semana concluída em 03 de abril de 2021 aponta para uma contração de 7,5%, uma deterioração de 6 p.p. em menos de dois meses que leva o índice ao patamar do final de julho de 2020, quando ocorria o primeiro pico da pandemia em São Paulo e no Rio de Janeiro.

 A gravidade da conjuntura aumenta a urgência da combinação de políticas de saúde pública com nova rodada de estímulos fiscais. Tal rodada deveria ser muito superior à retomada do auxílio emergencial em 06 de abril, que estimamos representar um choque negativo de 3% do PIB em relação aos valores de 2020.

Sem controle da pandemia, a economia brasileira deve participar timidamente, na melhor das hipóteses, da recuperação do PIB dos grandes parceiros comerciais que ampliam a vacinação e controlam a pandemia em 2021. A pior das hipóteses, contudo, é cada vez mais provável.

Baixe a nota 17 do Cecon aqui.

Os autores são professor e diretor associado do Cecon, doutorando/pesquisador do Cecon e graduanda do IEUNICAMP.

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