
Vivemos em novos tempos e tempos curiosos, o capitalismo que antes era conhecido como sistema econômico, atualmente não se tornou somente uma ideologia, mas uma religião, onde fé e dominação caminham lado a lado.
Diogo Almeida Camargos
Fonte: Le Monde Diplomatique Brasil
Data original da publicação: 14/07/2025
Aqui, a ironia é crua e realista para aqueles que crêem na realidade: o valor da vida não está na sua humanidade, mas no acesso ao luxo, ao conforto privado, as cifras no branco. A espiritualidade do mercado promete ascensão e sucesso – desde que você suba pela escada da competitividade individual.
É nesse espírito que Jung So Mung e Josué Cândido da Silva nos propõe uma reflexão sobre o fetiche da riqueza em seu livro Conversando sobre ética e sociedade. (1995, p.56):
“Nas nossas sociedades modernas capitalistas, com o mito do progresso, a economia passou a ser um fim em si mesma. As pessoas não trabalham mais para viver, mas vivem para trabalhar e ganhar dinheiro. As pessoas se perguntam “como ganhar dinheiro”, mas dificilmente se pergunta, “para que ganhar dinheiro”. Diante dessa pergunta inconveniente, respondem que é para ganhar mais dinheiro ou para poder comprar muitas coisas. Mas comprar é trocar dinheiro por um outro tipo de riqueza. No fundo, continua no mesmo objetivo de acumular riquezas.”
Ademais, a vida se tornou um meio para o dinheiro, para o capital. Trabalha-se para consumir. Consome-se para justificar a própria existência. Acumula riqueza para demonstrar o valor da existência.
Os mesmo autores ainda lembram algo essencial ( 1995, p.59)
“O que não podemos esquecer é que “consumidor” não é sinônimo de cidadão ou ser humano. Consumidor é o ser humano que tem dinheiro para entrar no mercado. Aqueles que não têm não são consumidores e estão fora do mercado. As mercadorias não são destinadas à satisfação, mas sim dos consumidores.”
O capital através do mercado, não apenas determina o que é valor, mas também quem é incluído nos seus cálculos e quem deverá ser excluído. A quem não prática essa religião chamada capitalismo, apenas resta a indignação.
Enquanto isso, os deuses da Faria Lima seguem nos observando do alto de suas salas envidraçadas e torcendo para que suas riquezas não sejam taxadas, pois o Estado Social já existe para eles.
Referências Bibliográficas
SUNG, Jung Mo. Idolatria do dinheiro e direitos humanos: uma crítica teológica do novo mito do capitalismo. São Paulo. Paulus, 2018, p. 15.
SUNG, Jung Mo; SILVA. José Cândido da. Conversando sobre ética e sociedade. Petrópolis. Vozes, 1995, p.56, 59.
Diogo Almeida Camargos é pós-graduado em Direito Penal Empresarial e Criminalidade, em Ciências Criminais e em Direito Penal Econômico, pelo Centro Universitário União das Américas. Possui ainda pós-graduação em Direito Empresarial e título de Master in Business com ênfase em Governança, Riscos e Controles, ambos pela Faculdade CEDIN. Bacharel em Gestão Financeira e atualmente licenciando em Filosofia pelo Centro Universitário UNA