Tamires Sacardo Lico
Fonte: Aedos: Revista do Corpo Discente do PPG-História da UFRGS, Porto Alegre, v. 7, n. 17, p. 271-286, dez. 2015.
Resumo: Este artigo aborda questões da precariedade dos trabalhadores livres da segunda metade do século XIX e das primeiras décadas do século XX. Minha proposta consiste em descrever alguns aspectos das condições de trabalho, habitação e saúde dos operários das construções das ferrovias no Brasil. Três companhias orientam este trabalho: San Francisco Railway, localizada na Bahia; Companhia Paulista de Estradas de Ferro, que ligava Jundiaí a Campinas, interior de São Paulo; Noroeste do Brasil, que teve seu traçado entre dois Estados, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Para as duas primeiras companhias, a qual a periodização abarca o período escravocrata, penso ainda a questão sobre a linha tênue entre a liberdade e escravidão. Ao observar as condições dos operários das construções das ferrovias, coloca-se em questão se o conceito de liberdade se aplicava realmente a estes trabalhadores, que experimentaram condições degradantes e, por vezes, perigosas nos trabalhos aos quais eram encarregados. São utilizadas fontes primárias e secundárias para tratar das companhias mencionadas.
Sumário: Introdução | O trabalho por empreitada | Os trabalhadores das construções das ferrovias | A precariedade do trabalho de construção das ferrovias | Questões de resistência | Considerações finais | Fontes | Referências bibliográficas
Introdução
O tema da precariedade do trabalho vem sendo discutido pela historiografia brasileira e internacional como ponto importante para entender as relações entre os trabalhadores e o patronato nos séculos XIX e XX. Diferente do que argumentam alguns pesquisadores, partimos da concepção de que o limite entre o trabalho livre e o trabalho escravo era tênue, uma vez que o simples direito de ir e vir dos trabalhadores das construções das ferrovias, mesmo em momentos de folga, era vetado. Portanto, a compreensão do conceito de liberdade não se aplicava tanto para trabalhadores escravizados quanto para trabalhadores livres. Trabalhadores livres nacionais, estrangeiros e escravos, compartilhavam a experiência da precariedade do trabalho. Em pesquisas recentes, podemos constatar que a condição do trabalhador livre tanto para o século XIX quanto para as primeiras duas décadas século XX era precária e o trabalho compulsório se fazia presente.
A produção historiográfica sobre os trabalhadores das construções das ferrovias no Brasil ainda se faz carente de estudos. As pesquisas direcionadas aos trabalhadores das ferrovias, voltam-se em maior número para os ferroviários e operadores. Ressalto duas pesquisas de grandes contribuições historiográficas para o tema, a tese de doutorado de Robério dos Santos Souza, intitulada “Se eles são livres ou escravos : escravidão e trabalho livre nos Canteiros da Estrada de São Francisco: Bahia, 1858-1863”; e a dissertação de mestrado de Thiago Moratelli, “Operários de empreitada: os trabalhadores da construção da estrada de ferro Noroeste do Brasil (São Paulo e Mato Grosso, 1905-1914)”; ambas pertencentes ao programa de pós graduação da Unicamp. Ainda sobre o mercado de trabalho das construções ferroviárias, o livro de Maria Lúcia Lamounier, “Ferrovias e Mercado de Trabalho no Brasil do Século XIX”, traz contribuições de suma importância. Para o período citado encontramos ainda uma vasta bibliografia sobre trabalhadores das lavouras ou indústrias e, por tal razão, destacamos a importância de compreender as condições sociais e de higiene em que se encontravam os trabalhadores das construções ferroviárias.
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Tamires Sacardo Lico é mestranda em História da Universidade Estadual de Campinas.