A inserção de mulheres na indústria de construção naval e off-shore em Rio Grande-RS: a relação com o sindicato

Susana Maria Veleda da Silva
Andressa Cristiane Colvara Almeida

Fonte: Pegada, Presidente Prudente, v. 16, n. 2, p. 307-332, dez. 2015.

Resumo: A partir dos elementos teórico-conceituais trabalho, gênero e territorialidade, a pesquisa está contextualizada na primeira década do século XXI e nas mudanças econômicas ocorridas no município de Rio Grande (RS), decorrentes das políticas de âmbito nacional, com destaque para a indústria de construção naval e off-shore. O estudo tem por objetivo analisar a relação das trabalhadoras com o sindicato dos metalúrgicos. A pesquisa qualitativa empregou, como técnica de coleta de dados, entrevistas semiestruturadas e observações da atuação das trabalhadoras e do sindicato durante greves e paralisações. A pesquisa realizou análise de conteúdo, utilizando, como ponto de partida, o software NVIVO 9. As trabalhadoras apresentaram algumas reivindicações específicas e foram elencados itens esclarecedores para uma baixa participação das entrevistadas nas ações sindicalistas.

Sumário: Introdução | Os conceitos chaves da pesquisa: gênero, trabalho, territorialidade e os sindicatos | Rio Grande e a indústria de construção naval e off-shore | As ações dos dirigentes sindicais e a relação das trabalhadoras com a família, o trabalho e o sindicato | A família e o trabalho reprodutivo: os obstáculos | A situação no trabalho produtivo: as reivindicações | O “sindicato dos metalúrgicos”: uma territorialidade masculina? | Considerações finais | Referências

Introdução

O resultado de estratégias nacionais é observado nas mudanças em nível local. Para Santos, “as decisões nacionais interferem sobre os níveis inferiores da sociedade territorial […]. Mas somente em cada lugar ganham real significação […]”(1997, p. 217). No Brasil, houve a retomada da indústria de construção naval a partir do final da década de 1990. Antes, “o setor esteve fortemente concentrado no Sudeste, particularmente no estado do Rio de Janeiro, berço dessa indústria no país, sendo responsável, nas décadas de 1970 e 1980, por mais de 90% da produção naval nacional” (JESUS, 2013, p. 91). Foi nos anos 2000, com as expectativas de exploração de petróleo da camada do pré-sal, que houve uma ampliação das áreas de atividade para outras regiões, inclusive a região Sul, e a admissão crescente de empregados(as) no setor com números apresentando dois dígitos nos milhares. A descentralização da atividade possibilitou a constituição de novos territórios de acumulação capitalista, resultando na inserção de trabalhadores(as) até então não familiarizados com esse ramo industrial.

Para compreendermos as consequências dos investimentos ocorridos no país e como isso se refletiu localmente, não precisamos identificar apenas os números. Ao tratarmos de uma dinâmica econômica, também estamos levando em consideração as pessoas que fazem parte do processo, particularmente os trabalhadores(as) e suas associações.

Sustentamos a tese conforme a qual os sindicatos exercem forte relevância na busca por melhores circunstâncias e relações de trabalho, por meio da negociação entre os diferentes agentes participantes da esfera laboral. Mesmo percebendo que estes espaços de reivindicação e de luta por condições de produção dignas e salários justos têm sofrido, nos últimos quarenta anos, um descenso e uma desmobilização relativa aos trabalhadores(as). Como elucida Harvey (1993), em sua obra Condição pós-moderna, ao descrever o início de movimentos contraculturais do final da década de 1960, antagônicos aos poderes institucionalizados como o dos partidos políticos e dos sindicatos burocratizados. Antunes (2006), diz que a crescente fragmentação, heterogeneização e complexificação da classe-que-vive-do-trabalho questiona a raiz do sindicalismo tradicional e a organização sindical de outros segmentos da classe trabalhadora. Afirmamos que a permanência de questões referentes ao tratamento desigual para homens e mulheres na esfera laboral, acrescenta ao sindicato uma problemática para além das já conhecidas reivindicações.

A limitada presença feminina no espaço sindical, até mesmo nos setores ou nas categorias profissionais que possuem um número elevado de trabalhadoras, dificulta a conquista de direitos e fortalece a exploração dessa foça de trabalho. O entendimento dos sindicatos como territorialidades masculinas sustenta tal interpretação. Poderíamos tomar como direcionador da pesquisa variados elementos referentes aos que compõem a classe trabalhadora deste setor industrial como raça, geração e/ou migração dentre outros, mas aqui destacaremos o conjunto identificado como mulheres, por compreender que ainda há uma forte resistência a sua integração às atividades políticas ligadas as questões laborais. De certa maneira, torna-se limitada a visão dos que analisam a sociedade sem chegar a escala daqueles que realmente, a partir do seu trabalho, põem em prática as decisões advindas “de cima”. Estes são os pertencentes à classe trabalhadora, a qual não é homogênea. Tratar desta questão levou a reflexão e a construção do presente artigo.

Clique aqui para continuar a leitura deste artigo no site da revista Pegada

Susana Maria Veleda da Silva é Professora de Geografia no Instituto de Ciências Humanas e da Informação (ICHI) da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Pesquisadora do Núcleo de Análises Urbanas (NAU/FURG). Pesquisadora do Grupo de Investigación de Geografía y Género da Universitat Autónoma de Barcelona/UAB. Representante da América Latina na Comissão de Geografia e Gênero da União Geográfica Internacional (UGI) no período 2008-2012.

Andressa Cristiane Colvara Almeida é Mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande(FURG). Participa de pesquisas ligadas às questões de gênero e suas relações com o trabalho pelo Núcleo de Análises Urbanas da FURG.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *