A História enquanto debate: a análise contestadora de “A Formação da Classe Operária Inglesa”

Bryan D. Palmer

Fonte: Mundos do Trabalho, v. 5, n. 10, p. 13-35, jul./dez. 2013.
Tradução: Renake Bertholdo David das Neves

Resumo: Este artigo discute as formulações de “A Formação da Classe Operária Inglesa”, partindo da perspectiva de que a análise empírica realizada por E. P. Thompson e os argumentos por ele elaborados podem ser melhor compreendidos levando-se em consideração suas experiências, com destaque para seu trabalho como educador de adultos no decorrer de quase vinte anos, e para as polêmicas em variadas frentes por ele desenvolvidas. Dessa maneira, torna-se possível compreender E. P. Thompson e sua obra em toda sua complexidade e criatividade, para além de tentativas mal sucedidas de enquadrá-lo em definições estáticas.

Sumário: Desfazendo a mentira encoberta | Debates em todas as trincheiras de Auden | A construção de “A Formação da Classe Operária Inglesa”: a estrutura do debate | Debate I: a Árvore da Liberdade revista | Debate II: oposição ao apologético em “A Maldição de Adão” | Debate III: consciência de classe e a heroica cultura de luta | Classe e Thompson: acontecimentos históricos

Há poucas palavras no vocabulário de Edward Thompson mais valorizadas, ou mais utilizadas, do que debate. Considere o Prefácio de 1978 de “A Miséria da Teoria e Outros Ensaios [The Poverty of Theory & Other Essays]”, no qual Thompson insistiu que a política do internacionalismo socialista era, necessariamente, uma “confluência, um intercâmbio. O debate é seu verdadeiro símbolo”. De fato, para Thompson, o debate era algo como uma metodologia imperativa. “É apenas enfrentando a oposição que me torno totalmente capaz de definir meu pensamento”, ele escreveu para Leszek Kolakowski em 1973, comparando-se a uma abetarda, que “pelas leis largamente conhecidas da aeronáutica, só pode elevar-se no ar contra o vento forte”. Thompson, semelhantemente a William Blake, a quem tanto admirou, articulou formas de “fugir do moralismo e da sabedoria estabelecida e explorar novas possibilidades”. O debate era, tanto para Thompson quanto para Blake, uma forma de manter “a visão divina em tempos de dificuldade”, e nesse frequente híbrido histórico paradoxal era possível abraçar “tradições incompatíveis”, as quais poderiam “ser postas em tensão polarizada” e “debatidas como conflitantes”. Logo após sua saída do Partido Comunista da Grã-Bretanha, em 1956, Thompson abraçou a importância do debate fundamentado. Quando ele e John Saville estavam discutindo o tipo de revista que queriam lançar, a fim de expressar a voz do comunismo renovado, Thompson escreveu “[a] principal coisa que desejo nessa revista é a crítica”. Havia, obviamente, muito que criticar, não apenas no âmbito da sociedade convencional e sua hegemonia capitalista, mas também no âmbito da esquerda, em que lealdades inapropriadas à degenerada União Soviética e a adoção acrítica da ideologia estalinista enfraqueceram substancialmente a possibilidade de revolução. A Reasoners de 1956, levada a cabo por Thompson, sua mulher Dorothy e John Saville, expressou a despedida deles do Partido Comunista, portando como bandeira uma citação de Marx: “Não combater um erro é encorajar a imoralidade intelectual.” Thompson, assim como seu colega nas mobilizações de dissenso nos anos de 1950, C. Wright Mills, adotou um posicionamento que evocava o melhor do poderoso poema de W. H. Auden, 1º de setembro de 1939, escrito quando a guerra estourou na Europa:

Tudo o que eu tenho é uma voz
Para desfazer a mentira encoberta
A romântica mentira no cérebro
Do mundano homem das ruas
E a mentira da Autoridade
Cujos prédios apalpam o Céu…

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Bryan D. Palmer é professor da Trent University, Ontário, Canadá. Autor de vários livros, entre eles Edward Palmer Thompson. Objeções e oposições, publicado no Brasil pela Editora Paz e Terra.

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