A função desempenhada pela conclusão do ensino médio na seleção e contratação de trabalhadores para a indústria

Inge Renate Frose Suhr

Fonte: Trabalho & Educação, Belo Horizonte, v. 25, n. 2, p. 113-124, maio/ago. 2016.

Resumo: Este texto trata da função desempenhada pelo Ensino Médio na formação dos trabalhadores, tendo em vista sua inserção no mundo do trabalho. Toma por referência teórica e metodológica o materialismo histórico e se apoia num estudo de caso realizado em duas empresas que se situam na ponta mais dinâmica da cadeia produtiva no ramo de fabricação de veículos automotores de Curitiba e região metropolitana. A questão que norteou a pesquisa foi: a conclusão do Ensino Médio tem favorecido a inserção do trabalhador nas indústrias que se encontram na ponta mais dinâmica da cadeia produtiva? Após analisar o tipo de trabalho executado na linha de produção, bem como os critérios de seleção e contratação de trabalhadores, evidenciou-se que o Ensino Médio é um requisito relevante para o ingresso nas empresas mais dinâmicas da cadeia, mas não o fator decisivo, que é a experiência. A exigência de conclusão do Ensino Médio se dá, principalmente, como ponto de corte nos processos seletivos e pela expectativa de possibilitar ao trabalhador condições para participar dos treinamentos internos.

Sumário: Introdução | Características do trabalho realizado na linha de produção | Critérios de empregabilidade na indústria | Expectativas em relação à escola no que se refere a conhecimentos e disciplinamento | Conclusão: refletindo sobre a função do ensino médio na inserção laboral da classe que vive do trabalho | Referências

Introdução

Este texto objetiva apresentar as conclusões de uma pesquisa realizada no período compreendido entre 2011 e 2014 sobre a função desempenhada pela conclusão do Ensino Médio – etapa final da Educação Básica – na inserção do trabalhador no setor secundário da economia.

Levamos em conta no decorrer da pesquisa que, sob a produção flexível, as cadeias produtivas demandam a combinação entre trabalhos desiguais e diferenciados (KUENZER, 2007), com o objetivo de manter a produtividade. Assim, há demandas diferenciadas e desiguais de formação do trabalhador e, de certo modo, dentro da lógica da inclusão subordinada aos interesses do capital (OLIVEIRA, 2004), há espaço para todos, embora alguns em posições centrais e outros em níveis crescentes de precarização.

Instituições como a Confederação Nacional das Indústrias (CNI), representante do empresariado, defendem a ampliação da escolaridade como potencializadora da empregabilidade e, portanto, de condições melhores de vida para o trabalhador. Segundo Melo (2010), em tal concepção, a conclusão da Educação Básica por parte do trabalhador seria pré-requisito para a elevação da produtividade nas indústrias e para o desenvolvimento da nação num momento histórico, no qual se verifica um alto nível de ciência e tecnologia embutido nos processos produtivos e a competitividade em nível internacional precisaria ser buscada pela economia brasileira. Tendo em vista que os processos produtivos mais complexos, mais eivados de ciência e tecnologia, tendem a se concentrar na ponta mais dinâmica das cadeias produtivas, partimos da hipótese que essas empresas exigiriam mais qualificação dos trabalhadores.

Na mesma direção, lemos em Kuenzer (2000, p. 16) que o empresariado tem defendido a necessidade de níveis mais elevados de formação da força de trabalho, a partir do discurso segundo o qual a produção estaria a exigir “a articulação entre conhecimentos, atitudes e comportamentos, com ênfase nas habilidades cognitivas, comunicativas e criativas”. Ainda nessa direção, trazemos Invernizzi (2004), para quem a exigência do domínio de conhecimentos realmente se amplia na organização flexível quando comparada ao taylorismo-fordismo e o conhecimento tácito é redimensionado, representando a interação entre conhecimento adquirido formalmente e na prática e seu uso em situações não prescritas.

Os estudos dos autores acima citados indicam também que a defesa da ampliação da escolaridade pelo empresariado não se coloca na direção do desenvolvimento de todas as potencialidades humanas, mas, sim, configura-se como “formação alienada e subordinada da classe trabalhadora aos interesses do capital, adaptada ao período atual de crise concorrencial” (MELO, 2010, p. 10).

A escolha da indústria como locus de pesquisa se justifica, por um lado, a partir das reflexões dos autores acima citados; por outro, busca aprofundar a compreensão da pesquisadora acerca da função desempenhada pelo Ensino Médio na formação do trabalhador, realizada no período compreendido entre 2002 e 2004. À época, constatou-se que a conclusão do Ensino Médio estava se configurando como mínimo exigido para participação nos processos seletivos para o emprego formal, mas que os egressos desse nível de ensino conseguiam colocação principalmente no setor terciário e em funções de baixo conteúdo intelectual, para as quais bastava o treinamento no próprio posto de trabalho.

Naquele momento, foi levantada a hipótese de que a base cientifico-tecnológica – em tese oferecida pela conclusão do Ensino Médio – poderia ser mais requerida para trabalho na indústria, cujos processos implicariam em mais aporte de ciência e tecnologia.

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Inge Renate Frose Suhr Doutora e Mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Graduada em Pedagogia pela mesma instituição, é Professora do curso de Pedagogia no Instituto Federal Catarinense – Campus Blumenau.

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