Forte reação do governo derrotaria grevistas, deixando marcas no movimento sindical do país.

Guilherme Daroit
Esgotados pelo estresse causado por sua atividade, os controladores de tráfego aéreo dos Estados Unidos se declararam em greve em 3 de agosto de 1981. Funcionários federais, os trabalhadores exigiam melhores salários, menores jornadas e antecipação da aposentadoria, chegando a atingir 13 mil controladores paralisados. A pesada reação do governo de Ronald Reagan, ele próprio um ex-sindicalista, entretanto, derrotaria a paralisação, que acabaria com a dispensa em massa dos grevistas e enfraqueceria para sempre o movimento sindical estadunidense.
Ao longo dos anos 1970, o sindicato da categoria havia tido sucesso com estratégias menos drásticas do que a paralisação total. Em 1981, porém, a Organização dos Controladores de Tráfego Aéreo Profissionais (PATCO) optaria pela greve após negociações fracassadas se desenrolarem por quase seis meses. O sindicato pedia aumento anual de US$ 10 mil (os salários variavam de US$ 20 a 50 mil) e redução na jornada de 40h para 32h semanais. À época, número considerável de controladores se demitia para cuidar da saúde ou trocar de profissão, tamanho o estresse da função, agravado pela desregulamentação da aviação no país em 1978.
Ainda no seu primeiro ano, o governo de Ronald Reagan não atenderia aos pedidos. Ex-presidente do sindicato dos atores, Reagan havia recebido apoio da PATCO em sua campanha, mas não seria amigável com os sindicalistas. A maior proposta oferecida pelo governo federal não chegava a 10% do aumento pretendido pelos controladores. Em 3 de agosto daquele ano, então, os trabalhadores desistiriam da negociação e partiriam para a greve.
Naquele dia, a maioria da categoria, cerca de 13 mil controladores, cruzaria os braços. Até a noite, cerca de 70% dos voos seriam afetados com a greve, complicando o sistema aéreo no período de férias da população.
A resposta do governo seria avassaladora. No mesmo dia, Reagan daria um ultimato aos controladores em um pronunciamento à imprensa, declarando que quem não voltasse ao trabalho em 48h seria dispensado, e que não haveria negociação nem anistia. A decisão se baseava em uma lei que proibia funcionários do governo de entrarem em greve, mas que nunca havia sido posta em prática.
Com o ultimato, cerca de 1,3 mil grevistas voltariam ao trabalho. No dia 5, cumprindo com sua ameaça, Reagan dispensaria os outros cerca de 11,4 mil controladores, proibindo-os de serem recontratados pelo governo por toda a vida. O sistema aéreo seria mantido viável com o trabalho dos 2 mil controladores aéreos que não estavam em greve, além de supervisores, militares e controladores aposentados que aceitaram voltar ao trabalho.
Dessa forma, o governo conseguiria retomar a normalidade no tráfego aéreo, destruindo o poder de barganha do sindicato. Os setores de propaganda também defenderiam a medida, garantindo o apoio da opinião pública contra os controladores.
Em outubro, por conta da ilegalidade da greve, a PATCO teria cassado seu certificado sindical, deixando de existir. Um novo sindicato na categoria, representando os controladores que não aderiram à greve e os novos empregados contratados após a paralisação, só seria formado em 1987. O banimento dos grevistas resistiria até 1993, quando finalmente puderam voltar a ser contratados pelo governo. Mesmo assim, só cerca de 850 controladores foram readmitidos ao longo do tempo.
O fracasso da greve deixaria sequelas em todo o movimento sindical estadunidense. Ainda que legal, até então nunca havia acontecido, em uma greve de grande porte, a dispensa em massa e contratação de substitutos permanentes. Com a adoção da medida pelo governo, o setor privado também perceberia a viabilidade da estratégia, assim como os próprios sindicatos se tornariam temerosos de sua utilização, diminuindo drasticamente o número de grandes greves a partir de então. Essas paralisações chegavam às três centenas por ano na década de 1970, e não passaram de uma dezena nos anos 2000. Os salários no país também passariam a crescer em menor escala em relação aos anos anteriores à greve, que deixaria seu legado de maneira negativa para os trabalhadores e a classe média estadunidense.
Guilherme Daroit é jornalista e bacharel em Ciências Econômicas, formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente, é diretor do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região.