Guilherme Daroit

Principal nome do sindicalismo tradicional brasileiro, linha advinda das direções sindicais do período anterior ao golpe militar de 1964, a União Geral dos Trabalhadores (UGT) assumiria sua configuração atual em julho de 2007. A entidade seria criada oficialmente em congresso realizado em São Paulo (SP), a partir do dia 19, com cerca de 2,5 mil delegados. No bojo da legalização das centrais sindicais, proposta naquele ano, a entidade surgia da fusão de três centrais, atraindo ainda dissidências de outras, consolidando-se, então, entre as maiores associações de sindicatos do país.

Em um momento de reestruturação das organizações sindicais do país, a UGT nascia em um congresso de três dias, com a presença de centenas de sindicatos, realizado no Palácio de Convenções do Anhembi. Era, na prática, a fusão de três das oito centrais existentes à época: a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), fundada em 1986 como sucessora do sindicalismo tradicional; a Central Autônoma dos Trabalhadores (CAT), fundada em 1995 como braço brasileiro de organizações sindicais internacionais; e a Social Democracia Sindical (SDS), fundada em 1997 e ligada ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).

Com a criação da UGT, também migravam dissidências da Força Sindical, entre elas os comerciários paulistanos, cujo presidente Ricardo Patah assumiria também a presidência da nova entidade, papel que desempenha até hoje. Dessa forma, a central nascia relevante, tanto em números, chegando perto do tamanho da Força, quanto em histórico pois, ainda que novata, já carregava em si a herança do sindicalismo do século passado.

Formado ainda no período anterior ao golpe militar de 1964, o sindicalismo tradicional resistiria depois, na abertura democrática dos anos 1980, à ascensão do novo sindicalismo, que resultaria na Central Única dos Trabalhadores (CUT). A distinção entre os grupos ficaria clara na Conferência da Classe Trabalhadora (Conclat), em 1981. Dali, as lideranças históricas migrariam para outro campo, organizando a Coordenação Nacional da Classe Trabalhadora (também Conclat), que em 1986 mudaria seu nome para Central Geral dos Trabalhadores (CGT), central que antagonizaria com a CUT.

Já nos anos seguintes, a CGT mudaria seu nome para Confederação Geral dos Trabalhadores, e passaria por uma série de outros desmembramentos. Entre eles, a criação de uma nova Central Geral dos Trabalhadores por uma dissidência ligada a grupos comunistas, o que faria com que, por quase três décadas, convivessem duas CGT – a segunda mudaria seu nome para Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) em 2004. Grupos ligados a CGT original, aliados a outras correntes sindicais independentes, formariam também a CAT e a SDS.

Boa parte desses grupos, então, voltariam a se reunir em 2007 sob a bandeira da refundada UGT. Naquele ano, o governo federal liderado pela primeira vez por um sindicalista, Luiz Inácio Lula da Silva, propunha uma reforma sindical, projeto do qual vigoraria a legalização, pela primeira vez, das centrais sindicais, que assumiam funções legais e canais de financiamento. A novidade levaria a uma reorganização das correntes sindicais, que estruturariam um novo paradigma para as centrais brasileiras. Entre elas surgiria a UGT, que renascia maior e a par das demais entidades que lideravam a associação de entidades de trabalhadores.

Fundada com cerca de 600 sindicatos, a UGT assumiria em 2016, menos de 10 anos após a sua criação, o papel de segunda maior central sindical do país, representando, à época, cerca de 11,3% dos trabalhadores brasileiros. A central afirma abarcar, hoje, cerca de 1,4 mil entidades, abrangendo uma base de 12 milhões de trabalhadores.

Guilherme Daroit é jornalista e bacharel em Ciências Econômicas, formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente, é diretor do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região.