Fundação da central marcaria consolidação da Corrente Sindical Classista, ligada ao PCdoB.

Guilherme Daroit
Em meio ao rearranjo na organização dos trabalhadores brasileiros do início do século XXI, uma nova central sindical nascia, em dezembro de 2007, emancipando tradição sindical de longa data. Vinculada ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), a Corrente Sindical Classista (CSC) se unia a outras tendências para criar a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). Oficializada em congresso realizado em Belo Horizonte, a nova entidade marcaria a consolidação do campo, pela primeira vez independente no movimento operário.
Antes da criação da CTB, os sindicalistas ligados ao PCdoB já se organizavam, desde o renascimento do sindicalismo brasileiro, em outras centrais. Inicialmente, nos anos 1980, o grupo havia rejeitado a criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), ligado ao novo sindicalismo que resultaria no Partido dos Trabalhadores (PT), optando por permanecer vinculado ao sindicalismo tradicional, que organizaria a Central Geral dos Trabalhadores (CGT).
Na entidade, guarda-chuva de grupos heterogêneos, os comunistas não completariam uma década – em 1988, após divergência com a ala do sindicalismo de resultados, que mais tarde fundaria a Força Sindical, sobre as propostas da central à Assembleia Constituinte, o grupo abandonaria a CGT. No mesmo ano, se institucionalizaram, recebendo o nome de Corrente Sindical Classista. Em março de 1990, em seu segundo congresso, a corrente enfim aprovaria a sua entrada na CUT, corrigindo o caminho escolhido na década anterior, transformando-se em tendência minoritária naquela que já era a principal central do país.
Dentro da CUT, o grupo manteria sua coesão, defendendo bandeiras muitas vezes antagônicas em relação à própria central. Sem o comando da entidade, posições do partido, como a defesa da unicidade sindical, não eram expressas no braço operário, historicamente defensor da liberdade sindical e do fim do imposto sindical.
Após quase duas décadas de coexistência, o cenário mudaria em 2007. Já no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ano prenunciava finalmente a legalização das centrais sindicais, que passariam a receber parte da arrecadação compulsória dos trabalhadores.
Além disso, a chegada ao poder de um sindicalista e as contradições inerentes à condição faziam aflorar divergências entre as correntes sobre a forma de atuação do movimento sindical, estimulando um rearranjo de forças no campo, com a formação de novas centrais e a reorganização de outras já existentes. Ao mesmo tempo, fora do campo sindical, a simbiótica relação entre PCdoB e PT também passava por uma crise, ocasionada por disputas por espaços legislativos
O cenário, portanto, estava armado para a ruptura entre os dois campos, que se consolidaria finalmente em dezembro de 2007. Naquele mês, entre os dias 12 e 14, o congresso de fundação da CTB seria realizado no SESC Venda Nova, na capital mineira, reunindo cerca de 1,5 mil delegados, de quase 600 entidades sindicais de todo o país. Ainda que dirigida pela CSC, a entidade nascia defendendo-se múltipla e apartidária, pois abarcava, também, o Sindicalismo Socialista Brasileiro, ligado ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), partido que se aproximava do PCdoB à época, além de sindicatos independentes. Com o movimento, a nova central já surgia como grande força do sindicalismo rural, englobando grande parte das entidades de trabalhadores camponeses pelo Brasil.
Com a independência da CUT, a nova central também levaria adiante outra de suas bandeiras, tornando-se o braço brasileiro da Federação Sindical Mundial (FSM), central sindical global historicamente ligada às entidades alinhadas com a União Soviética, filiação mantida até hoje.
Ao longo do tempo, para além dos grupos fundadores, a CTB ainda abarcaria outras correntes sindicais. Em especial, em 2021, a central incorporaria a Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), antiga representante da FSM no Brasil, ligada ao Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), cujo Partido Pátria Livre (PPL) havia sido incorporado ao PCdoB dois anos antes.
Com a união, os dois grupos que nos anos 1980 faziam parte da CGT voltariam a coexistir no movimento sindical após quase 30 anos. Atualmente, a CTB possui cerca de 1 mil entidades afiliadas, posicionada entre as 4 maiores centrais brasileiras. Em termos de trabalhadores, a entidade se reivindica a segunda maior, atrás apenas da CUT, com 1,65 milhão de sindicalizados em 2023, que representariam 8,7% dos sindicalizados do país.
Guilherme Daroit é jornalista e bacharel em Ciências Econômicas, formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente, é diretor do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região.

