Unindo forças para antecipar horizontes: DMT e ABET estabelecem parceria para disseminação de conteúdos e discussões

por Igor Natusch

Em um cenário de constante ataque aos direitos trabalhistas e de desvalorização de toda produção de conhecimento, a criação de redes de apoio e diálogo é fundamental para superar a tempestade. A partir de uma visão comum a respeito dos desafios deste momento decisivo para a democracia e para a esfera do trabalho, em escala local e global, o Democracia e Mundo do Trabalho em Debate (DMT) reforça seus laços com a Associação Brasileira de Estudos do Trabalho (ABET), em uma união de forças que amplia a capacidade de disseminar informações relevantes e influenciar agentes públicos na tomada de decisões fundamentais para o futuro de todos e todas nós. A partir de agora, a ABET passa a ter um espaço específico na página inicial do DMT, trazendo temas de interesse dentro das áreas de conhecimento abordadas pela Associação.

Surgida na conjuntura da redemocratização e da Constituição de 1988, a ABET tem, desde sua fundação em maio de 1989, o objetivo declarado de permitir e encorajar atividades acadêmico-científicas em torno de temas ligados ao trabalho no Brasil. Com o passar dos anos, o foco da entidade foi se expandindo: antes centrada em temas ligados à lógica econômica e de desenvolvimento, a ABET foi incorporando problemáticas que dialogam com outras disciplinas do campo do conhecimento. Hoje, a ABET conta com mais de 750 associados e associadas, atuando em temáticas como a sociologia do trabalho, o Direito, a saúde, a sociologia da educação e a história do trabalho.

“Nosso objetivo é ser uma associação voltada ao trabalho acadêmico, mas que também traga a pretensão de produzir conhecimento capaz de influir nas políticas públicas. Esse é o nosso grande desafio”, afirma Patrícia Vieira Trópia, presidente da ABET e docente do Instituto de Ciências Sociais da Universidade Federal de Uberlândia. “Sempre que somos convidados pela OIT, mandatos parlamentares ou entidades públicas para participar de debates ligados ao mundo do trabalho, nós respondemos positivamente. Para além de trazer a política e esses debates para dentro da ABET, temos o compromisso de sermos reconhecidos como uma referência para pensar políticas públicas ligadas ao mundo do trabalho.”

Dentro desse caráter interdisciplinar, a ABET atua por meio de 16 grupos temáticos, e promove, a cada dois anos, um Encontro Nacional para consolidação e expansão dessas discussões. Neste ano, a 17ª edição do evento tem como tema “Crises e horizontes do trabalho a partir da periferia”, e se dará de forma remota, entre os dias 3 de agosto e 10 de setembro. Esta edição será a primeira a incluir, entre seus grupos temáticos, a discussão sobre o tema da uberização com a criação do GT Uberização, Trabalho Digital, Novas formas de Controle e Resistência. Há também grupos voltados a vários outros ângulos da problemática trabalhista, como o trabalho análogo ao escravo, economia solidária, sindicalismo, relações de gênero, raciais e geracionais e a relação entre tecnologia e trabalho durante a pandemia da Covid-19, entre muitos outros. Mais informações podem ser obtidas neste link.

Levando em conta essa convergência de interesses e lutas, nada mais natural que ABET e DMT venham estabelecendo uma proximidade crescente. “Essa convergência não é fortuita”, concorda Patrícia Trópia. “O portal do DMT faz um trabalho de publicação, de fomento e de estímulo ao debate, à discussão, problematização e aprofundamento. E a ABET tem esses mesmos objetivos e, me arrisco a dizer, quase a mesma metodologia. Para nós, o DMT se tornou uma fonte quase diária de consultas, e a parceria surgiu como um desdobramento natural. Acredito que essa aproximação amplia a multiplicidade de olhares dentro da ABET e, ao mesmo tempo, acredito que a Associação ajuda a dar visibilidade ao DMT junto a pesquisadores que talvez não visitassem o site espontaneamente.”

Aproximar ideias e projetos, em um momento no qual há uma crescente imposição na direção do pensamento único, é um movimento que une a potencialização de forças à capacidade de resistência. Natural, portanto, que os dois aspectos estejam presentes no XVII Encontro da ABET – evento no qual o DMT se fará presente. “O trabalho está sempre em crise. Não há nenhuma grande novidade nisso, cada conjuntura coloca novos desafios. Mas essa tempestade perfeita de crise econômica, política e sanitária não poderia deixar de estar no centro dos nossos debates neste ano”, comenta a presidente da ABET. “Ainda assim, nós decidimos que não era suficiente apenas pensar a crise, mas também colocar a expectativa de futuro e se antecipar a esse horizonte. E, se convidamos a olhar para o horizonte, é porque a Associação tem a sua própria visão de horizonte, muito diferente da que temos hoje. Temos que pensar o direito do trabalho, a reconfiguração do trabalho, a precarização, a uberização, como reverter o horizonte da desproteção e da informalidade”, enumera.

Para influenciar, é fundamental ter a capacidade de se fazer ouvir. E é isso que a ABET, a partir de aproximações com projetos como o DMT, busca consolidar. “Nossos pesquisadores têm todas as ferramentas para fazer uma análise profunda e significativa, mas dependemos da política para que ela reverta em novos horizontes. Estamos abertos a debater, os pesquisadores brasileiros têm o que dizer, mas enfrentamos desafios como o negacionismo e o desprezo à ciência. Os obstáculos não são pequenos, mas creio que estamos cada vez mais fortalecidos e capazes de criar redes que potencializam visões críticas e propostas inclusivas e justas.”

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