Ao entrar em um restaurante de fast-food nos Estados Unidos, uma pessoa tem uma chance em cinco de ser atendida por um empregado com renda abaixo da linha da pobreza do país, segundo uma pesquisa divulgada na terça-feira (15/10) pela Universidade de Berkley, na Califórnia, e pelo Departamento de Planejamento Urbano e Regional da Universidade de Illinois. Os dados mostram que 20% desses trabalhadores vivem na pobreza.
De acordo com a análise, mais da metade dos atendentes das redes de fast-food (52%) são contemplados por um ou mais programas sociais do governo, comparados a 25% da força de trabalho como um todo. Por causa dos baixos salários pagos aos empregados, que precisam recorrer à assistência social, a indústria de fast-food custa quase U$S 7 bilhões por ano aos pagadores de impostos norte-americanos.
Dos programas de assistência governamentais, o Medicaid (seguro de saúde para pessoas necessitadas) e o Chip (Programa de Seguro de Saúde Infantil, na sigla em inglês) são os que mais pesam nos bolsos dos contribuintes por causa dos restaurantes de fast-food: são U$S 3,9 bilhões por ano. Além disso, 24% das famílias de pessoas que trabalham nesses restaurantes recebiam cupons de comida do Estado durante os anos analisados (2007 a 2011).
A pesquisa foi publicada depois de milhares de empregados dessas redes terem saído às ruas por meses pedindo melhores salários. Muitos afirmaram querer que o pagamento fosse elevado a U$S 15 por hora. O salário médio desses trabalhadores à época da pesquisa era de U$S 8,69 por hora, para aqueles que trabalhavam 30 horas por semana. A Associação Nacional de Restaurantes dos EUA, espécie de sindicato, não comentou os dados.
A situação não melhora muito para quem trabalha 40 horas por semana, aponta a pesquisa. “Pessoas que trabalham em redes de fast-food são tão mal-pagas que precisar de assistência social é a regra, não a exceção, mesmo para aqueles que trabalham 40 horas por semana”, afirmou Ken Jacobs, de Berkeley. Apenas 28% dos atendentes de fast-food trabalham 40 horas ou mais por semana, contra 75% da força de trabalho em geral.
“Esse é o custo de baixos salários nos Estados Unidos”, afirmou a economista Sylvia Allegretto, também de Berkeley. “O custo é público porque os contribuintes o suportam. Ainda assim, ele se mantém escondido nos debates de política nacional sobre pobreza, emprego e gastos públicos”.
Para Paul Ashworth, chefe norte-americano do instituto de consultoria Capital Economics, não há soluções fáceis para o problema de baixos salários. “Você não pode negar o que aconteceu com os salários médios das famílias dos Estados Unidos, mas a verdadeira questão por trás disso é: bom, o que fazer? Estamos defendendo reverter a globalização e elevar as tarifas alfandegárias para tornar os EUA mais isolacionistas, onde você só pode comprar produtos norte-americanos?”, questionou.
O relatório trouxe ainda uma informação que pode ser considerada surpreendente por muitos: a maioria das pessoas acha que empregos em redes de fast-food são dominados por adolescentes, mas, na verdade, grande parte desses trabalhadores são adultos. Cerca de 23% dos atendentes têm entre 16 e 18 anos, enquanto 26% são adultos com filhos. Mais da metade, entretanto, é constituída de adultos sem filhos.
No começo deste ano, empregados de fast-food de 60 cidades norte-americanas entraram em greve para exigir pagamentos mais altos, para que não tivessem que se apoiar em programas governamentais. Eles planejam outras ações ainda para esta semana.
Fonte: Opera Mundi
Data original da publicação: 15/10/2013