Um alerta contra a desumanização do trabalho

Fotografia: Reprodução/IMDb

O 1º de Maio é mais que uma data celebrativa. Deve ser um dia dedicado para resgatar a dignidade do trabalho.

Amarildo Cenci

Fonte: Sul 21
Data original da publicação: 01/05/2022

Há milhares de anos atrás, os nossos antepassados modelaram o corpo humano de tal forma que nos tornamos uma espécie altamente produtiva. Foi trabalhando que expandimos a nossa inteligência e sofisticamos a nossa linguagem. 

Por isso é que se diz que o trabalho nos constituiu e nos embarcou na grande aventura chamada de civilização. As perguntas provocativas do “trabalhador que lê”, do poeta Berthold Brecht, nos convidam a enxergar no processo civilizatório a presença explorada dos verdadeiros demiurgos.   

Vários sistemas foram criados para dominar essa extraordinária força criativa. A escravização foi o mais abominável deles. O “trabalho livre” no regime capitalista para uma imensa maioria continua representando repetição e sofrimento. O grito de Charles Chaplin – “não sois máquinas, homens é que sois!” – denuncia essa insuportável desumanização acarretada pelo trabalho nos tempos modernos. 

Atingimos um surpreendente avanço tecnológico que nos dá condições de elevar o patamar de prosperidade. Todavia, milhões de trabalhadores estão abandonados na condição de “inúteis”. Outros tantos estão submetidos ao trabalho sem sentido. 

A onda de retirada de direitos, de rebaixamento salarial e de degradação das condições de trabalho revela que estamos sob feroz ataque dos endinheirados, que travam uma escandalosa e perigosa disputa para saber quem se tornará mais rico. Enquanto um punhado de bilionários ostenta riquezas incalculáveis, os jovens do mundo estão ameaçados por uma lógica econômica que os impedem de participar com dignidade dos ganhos tecnológicos.

O 1º de Maio é mais que uma data celebrativa. Deve ser um dia dedicado para resgatar a dignidade do trabalho. Mais do que direitos e salários decentes é preciso garantir formas de trabalho que assegurem o bem viver. Para se contrapor à distopia vigente, que ameaça a nossa sobrevivência com guerras e aniquilamento da natureza, é preciso que o mundo seja devolvido para os trabalhadores.

Amarildo Cenci é professor e presidente da CUT-RS

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