Silvia Federici nasceu em Parma, na Itália, em 1942. É ativista feminista, filósofa, escritora e professora. Em 1967, mudou-se para os Estados Unidos, onde pouco depois participou da fundação do International Feminist Collective, a organização que lançou internacionalmente a campanha Wages For Housework [Salários para o Trabalho Doméstico]. Com outras membras da organização, como Mariarosa Dalla Costa e Selma James, e com outras autoras feministas como Maria Mies e Vandana Shiva, Federici tem sido instrumental no desenvolvimento do conceito teórico da reprodução sexual como uma chave para estudar as relações de classe, de exploração e dominação em contextos locais e globais, bem como no centro das formas de autonomia e dos bens comuns.
Nos anos 1980, Federici viveu na Nigéria, onde deu aulas na Universidade de Port Harcourt e ajudou a criar o Committee for Academic Freedom in Africa, além de ter acompanhado a organização feminista Women in Nigeria. Já na década de 1990, foi ativa no movimento antiglobalização e no movimento contra a pena de morte dos EUA.
De 1987 a 2005, ela ensinou estudos internacionais, estudos sobre mulheres e cursos de filosofia política na Universidade de Hofstra, nos Estados Unidos, onde se tornou professora emérita. Ao longo desses anos, escreveu livros e ensaios sobre filosofia e teoria feminista, história, educação e cultura das mulheres e, mais recentemente, a luta mundial contra a globalização capitalista e por uma reconstrução feminista dos comuns. Federici se define como uma feminista anticapitalista e em seus trabalhos analisa o capitalismo e as relações entre o trabalho assalariado e o trabalho reprodutivo sob uma perspectiva crítica de que o corpo das mulheres é a última fronteira do capitalismo.
No Brasil, teve publicados os livros de Mulheres e caça às bruxas (2019) e O patriarcado do salário (2021) pela Boitempo e Calibã e a bruxa (2017), O ponto zero da revolução (2019) e Reencantando o mundo (2022) pela Elefante. Neste mês, os assinates do Armas da crítica, o clube do livro da Boitempo, recebem em primeira mão o livro Democracia para quem? Ensaios de resistência, que reune palestras de Silvia Federici, Angela Davis e Patricia Hill Collins.
Para saber mais sobre a autora, confira aqui no Blog da Boitempo:
A imagem da bruxa está no centro de uma batalha, por Silvia Federici
Silvia Federici, a exploração das mulheres e o desenvolvimento do capitalismo, por Jodi Dean
Silvia Federici, a força analítica de Marx e o caráter explosivo da luta feminista, por Bruna Della Torre
Por que o marxismo precisa ser feminista, por Bruna Della Torre
A caça às bruxas é um fenômeno histórico do passado e do presente, por Sabrina Fernandes
Origens da guerra, o papel da Otan e cenários futuros na Ucrânia: uma mesa-redonda com Balibar, Federici e Löwy, por Marcello Musto
Democracia para quem? reúne as palestras proferidas de 15 a 19 de outubro de 2019, por três intelectuais do movimento feminista – Angela Davis, Patricia Hill Collins e Silvia Federici – no âmbito do seminário internacional “Democracia em Colapso?”, promovido pelo Sesc São Paulo e pela Boitempo. No livro, é possível tomar contato com reflexões feitas pelas três autoras – referências globais em suas áreas de estudo e de atuação – sobre temas como capitalismo, racismo, desigualdade social, ecologia, entre outros.
No que se refere, por exemplo, ao papel da mulher na sociedade, Angela Davis afirma que não pode haver democracia sem a luta histórica das mulheres negras: “Quando as mulheres negras se moveram em direção à liberdade, elas nunca representaram apenas elas mesmas”. Para Davis, a figura da mulher negra representa todas as comunidades que sofreram exploração econômica, opressão de gênero e violência racial.
Em sua apresentação, Collins reflete sobre o conceito de liberdade e diz que não faz diferença pensar em liberdade para pessoas negras sem pensar no que isso significa tanto para homens negros quanto para mulheres negras: “Seria maravilhoso se pudéssemos deixar para trás as partes feias do passado. Mas, se olharmos à nossa volta, podemos ver as mesmas relações atualmente e percebemos que esse é um discurso que está mais vivo que nunca e que tem uma longa história”.
Já a italiana Silvia Federici observa a resistência das mulheres em todo o mundo para reconstruir e defender os bens comuns: “Estão defendendo seus bens quando defendem a floresta ou a terra ou as águas de uma empresa de mineração ou de petróleo. Estão dizendo que a Terra pertence a todos e todas”.
A obra conta ainda com intervenções de Adriana Ferreira, Raquel Barreto, prefácio de Marcela Soares e texto de orelha de Juliana Borges.
Mulheres e caça às bruxas: da Idade Média aos dias atuais, de Silvia Federici
Por que voltar a falar, hoje, sobre caça às bruxas? Em Mulheres e caça às bruxas, Silvia Federici revisita os principais temas de um trabalho anterior, Calibã e a bruxa, e nos brinda com um livro que apresenta as raízes históricas dessas perseguições, que tiveram como alvo principalmente as mulheres. Federici estrutura sua análise a partir do processo de cercamento e privatização de terras comunais e, examinando o ambiente e as motivações que produziram as primeiras acusações de bruxarias na Europa, relaciona essa forma de violência à ordem econômica e argumenta que marcas desse processo foram deixadas também nos valores sociais, por exemplo, no controle da sexualidade feminina e na representação negativa das mulheres na linguagem.
O patriarcado do salário: notas sobre Marx, gênero e feminismo (v.1), de Silvia Federici
Coletânea de artigos que abordam a relação entre marxismo e feminismo do ponto de vista da reprodução social. Retomando diversas discussões presentes nas obras de Karl Marx e Friedrich Engels, a autora aponta como a exploração de trabalhos como o doméstico e o de cuidados, exercido pelas mulheres sem remuneração, teve e tem papel central na consolidação e na sustentação do sistema capitalista.
Confira o debate Patriarcado, exploração do trabalho reprodutivo e caça às bruxas com Helena Silvestre, Renata Gonçalves e Samara Xavier (mediação), na TV Boitempo:
Conferência Mulheres e caça às bruxas, com Silvia Federici, mediação de Eliane Dias e comentários de Bianca Santana
Feminismo, comuns e ecossocialismo, debate com Silvia Federici, Sonia Guajajara e medição de Bruna Della Torre
Aula de introdução a Silvia Federici, com Sabrina Fernandes
Fonte: Blog da Boitempo
Data original da publicação: 21/09/2023